15 de fevereiro de 2006

CONFLITO DE CIVILIZAÇÕES?


A propósito da recente publicação de caricaturas de Maomé e das reacções de indignação que se seguiram, tem-se levantado de novo a questão do conflito de civilizações. (...)
Penso, no entanto, que, a este propósito, antes de falar em conflito de civilizações, importa clarificar princípios que se apresentam, às vezes superficialmente, como característicos de cada das civilizações em confronto. Um deles é o da liberdade de expressão e o seu estatuto nas sociedades democráticas. O outro é o da relação entre Islão e violência.

A liberdade de expressão, estrutural numa sociedade livre e democrática, não pode ser absoluta, ao contrário do que se tem dito e do que poderia decorrer de uma concepção individualista e associal da liberdade. Não há liberdades absolutas. A liberdade de expressão há-de compatibilizar-se com as outras liberdades e outros valores constitucionais. A liberdade de cada um há-de compatibilizar-se com a liberdade dos outros.
(...) O artigo 252º do Código Penal português pune o ultraje a acto de culto religioso e o artigo 251º do mesmo diploma pune o ultraje por motivo de crença religiosa. Saliente-se que este último artigo pune a ofensa ou escárnio em razão de crença ou função religiosa apenas quando tal se verifique de «forma adequada a perturbar a paz pública».
Parece-me criticável esta exigência, pois o respeito pelos sentimentos religiosos de outrem justifica, por si só, a punição e não deveria fazer-se a distinção entre os casos que podem afectar a paz pública (como é, inequivocamente, aquele a que estamos a assistir) e os que não a afectam, porventura porque dizem respeito a uma comunidade religiosa pacífica ou de reduzida expressão numérica. No caso em apreço, as expressões de solidariedade de vários responsáveis políticos para com os muçulmanos ofendidos nos seus sentimentos deveria ter sido anterior, e não posterior, às manifestações de violência e de perturbação da paz pública. (...)
Há que distinguir a crítica, típica de sociedades tolerantes, da ofensa e do ultraje, que são uma clara expressão de intolerância.
Podem, pois, os muçulmanos reclamar o respeito que lhes é devido nas sociedades livres e democráticas. Terão de fazê-lo, porém, na observância do quadro legal dessas sociedades, que separa o Estado e a sociedade civil (por isso, não pode um Estado ser responsabilizado pelo que é publicado num jornal), assim como separa o poder executivo e o poder judicial (sendo que é só a este que cabe dirimir este tipo de conflitos). E, sobretudo, que não permitem que a religião possa ser pretexto para manifestações de violência.
(...) Para evitar que, a partir de situações como esta, se desencadeie um conflito de civilizações, devem as sociedades democráticas ocidentais atender aos limites da liberdade de expressão e ao respeito devido aos sentimentos religiosos das pessoas. Mas, por outro lado, devem os responsáveis muçulmanos afirmar com vigor que é abusivo invocar o Islão como justificação para a violência.

Pedro Vaz Patto
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10 de fevereiro de 2006


"One day in the life of Africa..."
África na perspectiva de 100 fotógrafos...



(vale a pena ver... infelizmente não dá para copiar as fotografias e pô-las aqui no blog)

www.olympus.co.jp/en/event/DITLA/


"Day in the Life" is the largest photography event in history, recording the culture of countries from around the world for 20 years. Celebrated photojournalists from around the world disperse throughout various countries and regions and use their cameras to capture the characteristics of one day. To date this event has been held 13 times in places such as America, China, Russia and Japan and on each occasion all of the images were published as a photo book, selling more than 3.5 million copies worldwide.
"A Day in the Life of Africa" was held on February 28, 2002 with nearly 100 photographers from 26 countries around the world using the 53 countries of the African continent as the backdrop.
The main objective of this years project is the increasing of awareness of the crisis situation on the African continent with more than 25 million HIV positive males and females, including children, and currently increasing at a rate of 2 people infected every minute. Lee holds the post of chairman of the "Day in the Life of Africa AIDS Education Fund" and all profits from sales of the photo book are being used in the African AIDS Education Program Fund.
Com algum atraso, mas eis como os nossos candidatos à Presidência foram tratados pelos noticiários da TV:


Cavaco Silva protagonizou o maior número de notícias, com 55 matérias. Jerónimo de Sousa, com 20 peças, foi o que menos notícias protagonizou nos noticiários destes canais.




Cavaco Silva protagonizou também notícias de maior duração, com um total superior a 2 horas e 56 minutos. Jerónimo de Sousa, pelo contrário, foi protagonista de notícias de menor duração total, de cerca de 33 minutos.


Cavaco Silva protagonizou, tal como tem vindo a acontecer, matérias de duração média mais longa, de 3 minutos e 13 segundos. Pelo contrário, Jerónimo de Sousa protagonizou notícias de duração média mais baixa, com 1 minuto e 38 segundos.


O Lixo e os pobres


Em 1991, foi publicado no The Economist e no The New York Times um memorándum interno do Banco Mundial, da autoria do então vice-presidente Lawrence Summers, segundo o qual o Banco Mundial devia estimular a "exportação" dos resíduos (lixo) dos países industrializados para os países menos desenvolvidos porque (e note-se a lata, o descaramento com que isto não só é pensado como é efectivamente dito numa sede oficial e à escala supra-nacional):

1- segundo a lógica económica, os desperdícios tóxicos devem ser despejados sobre os países de menores rendimentos
2- os países menos povoados são menos poluídos
3- o cancro terá menos incidência sobre uma população com esperança de vida curta.

Portanto:
1- aos países que não gozam das vantagens do desenvolvimentos, façamo-los aguentar com as desvantagens
2- poluamos os países que ainda não estão poluídos
3- no caso de algum pobretanas conseguir sobreviver à SIDA e à malária, fica com o cancro da próstata ali à espera dele, não vá o diabo tecê-las....

O tipo (o tal Summers) depois chegou a Secretário do Tesouro dos EUA durante dois mandatos, e hoje é o presidente de Harvard.

E esta, einh?

9 de fevereiro de 2006

GOZAR COM A NOSSA CARA

O Banco Espírito Santo obteve um resultado líquido de 280,5 milhões de euros, em 2005. Um valor a que corresponde um aumento de 85% quando comparado com o exercício anterior.

5 de fevereiro de 2006



As demolições no bairro da
Azinhaga dos Besouros (Amadora)
dos dias 24 e 25 de Janeiro chegaram aos meios de comunicação e impressionaram algumas pessoas. Óptimo.
Pena é que só uns quantos estudantes Erasmus, juntamente com membros da Associação Solidariedade Imigrante, se tenham solidarizado com as pessoas em causa e se tenham deslocado ao local para tentar "resistir". Contou-me em primeira mão uma amiga minha italiana que estava a fazer Erasmus aqui em Lisboa que foi tristíssimo: eram pouquíssimos os manifestantes e quase todos estrangeiros. Que alguns que se puseram pacificamente em cima do telhado de uma barraca foram de lá arrancados literalmente pelos cabelos, por um polícia. No segundo dia de demolições, de facto, havia bem menos gente ainda do que no primeiro, porque muitos dos manifestantes tiveram medo das repercussões físicas desta acção. Contou-me também que aos polícias com quem falou tinham sido contadas um monte de mentiras, que eles estavam ali todos convencidos de que aquelas pessoas já tinham realojamento garantido, etc...
Esta minha amiga, que de resto partiu hoje de manhã de regresso a Itália, foi-se embora com uma linda imagem do nosso país primeiro-mundista e desenvolvido.... Com os direitos das pessoas espezinhados de forma grotesca, e sem que ninguém se importe nem se mexa. As cenas passam no telejornal e os portugueses consideram tudo normal, normal que as casas sejam deitadas abaixo e as pessoas fiquem na rua, normal que os polícias recorram à violência quando os manifestantes estavam a ter uma conduta totalmente pacífica, normal que só estejam ali quatro gatos pingados, normal... enfim.
Envergonhemo-nos.


Notícia na indymedia:


As demolições no bairro da Azinhaga dos Besouros (Amadora) prosseguiram esta semana, tendo várias habitações sido destruídas sem que qualquer alternativa fosse garantida às pessoas não incluídas no último recenseamento das famílias a realojar, que data de 1993, não contemplando assim as pessoas que, no período de doze anos, se tornaram habitantes do bairro. Na terça-feira, dia 24, os bull-dozers da Câmara Municipal da Amadora destruíram cerca de quatro casas, apesar da resistência de várias pessoas, algumas das quais pertencentes ao Grupo de Direito à Habitação da Associação Solidariedade Imigrante. Elementos da PSP retiraram violentamente as activistas dos telhados das habitações, tendo recorrido ao uso de gás pimenta. Um jovem chegou a ser detido durante cerca de 30 minutos.
No período da tarde, algumas pessoas solidarizaram-se com Adriana, a proprietária da última casa prestes a ser demolida, tendo-se barricado no seu interior. Registaram-se igualmente confrontos entre forças de intervenção da PSP e alguns jovens do bairro, alegadamente provocados por disparos de caçadeira realizados por pessoas que se encontravam no local.
De destacar que tais afirmações veiculados pelos media institucionais foram inteiramente baseadas em declarações da PSP.
Durante alguns minutos verificaram-se momentos de tensão, tendo várias pedras sido arremeçadas a agentes da PSP, ao que estes responderam com o disparo de balas de borracha.
No dia 25, de manhã, máquinas e polícia voltaram à Azinhaga dos Besouros. Diversos manifestantes que tentavam impedir a demolição de uma habitação, foram violentamente empurrados pelas forças de intervenção, tendo estas estabelecido um perímetro à volta da casa. Por volta das 11h00, e após várias horas de negociação, a porta da habitação foi arrombada, tendo a proprietária e as pessoas que lá se encontravam sido retiradas e identificas pela PSP. A casa foi imediatamente demolida, sem que todos os pertences fossem retirados.
Nenhuma alternativa habitacional foi oferecida às pessoas que ficaram sem casa, tendo a autarquia apenas disponibilizado um armazém, onde os seus poucos bens serão guardados.



Notícia num jornal online de cabo-verde:
Cenas chocantes para desalojar imigrantes


DEMOLIÇÃO DE AZINHAGA DOS BESOUROS (PORTUGAL) COM FORTE INTERVENÇÃO POLICIAL


Lisboa, 25 Janeiro – Terminaram as demolições de mais de 70 casas no bairro de Azinhaga dos Besouros, na cidade da Amadora, Portugal. Algumas das famílias desalojadas, todas de origem africana, vão ficar sem abrigo por não serem enquadradas no plano habitacional da Câmara da Amadora. Com forte aparato policial, a operação concluiu-se hoje, continuando a enfrentar forte resistência: associações de solidariedade juntaram-se aos moradores que se opunham às demolições – Associação Solidariedade Emigrante, Associação Direito à Habitação, foram duas das organizações que se deslocaram à Azinhaga dos Besouros para manifestar a sua oposição ao acto determinado pela Câmara da Amadora.
Ao contrário do que ontem aconteceu, não se registaram hoje cenas de violência. Na terça-feira, as brigadas de demolição defrontaram-se com barreiras de automóveis que impediam o acesso às retro-escavadoras e a polícia usou de bastões e de tiros com balas de borracha para vencer a resistência. Houve recurso à coacção física.
A Azinhaga dos Besouros é um bairro clandestino, sobretudo habitado por imigrantes africanos (alguns cabo-verdianos) e pela segunda geração. Era um verdadeiro gueto e, segundo a Câmara, palco de manifestações de marginalidade – tráfico de droga e violência. Sendo parcialmente verdade, a Azinhaga era também a face “menos visível” (para quem a não quer ver) da realidade social das comunidades imigrantes e descendentes.
Sem uma política social eficaz, que tenha em conta a situação real das comunidades imigrantes, a demolição não é solução – apenas transfere para outros locais quem estava na Azinhaga dos Besouros... pela circunstância dessas pessoas necessitarem de habitar nalgum sítio: sem casa, sem dinheiro para alugar ou comprar, nada mais lhes resta do que construir clandestinamente novas barracas.

3 de fevereiro de 2006




O Jardineiro Fiel

Título Original: The Constant Gardener
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 129 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2005
Site Oficial: http://www.theconstantgardener.com/
Direção: Fernando Meirelles
Elenco: Ralph Fiennes, Rachel Weisz.


(é pena resvalar para o pseudo-piroso no fim, mas é um bom filme)





OS RESPIGADORES E A RESPIGADORA
Les Glaneurs et la Glaneuse

Realizador: Agnès Varda
Actores: Bodan Litnanski, Agnès Varda e François Wertheimer
Ano: 2000
Idade: M/12
Duração: 82 minutos
Género: Documentário

O pesadelo de Darwin



PRÉMIOS EUROPEUS DO CINEMA 2004 -MELHOR DOCUMENTÁRIO e premiado nos festivais de VENEZA, BELFORT, COPENHAGA, MONTRÉAL, PARIS, CHICAGO, SALÓNICA, OSLO, MÉXICO, ANGERS e Selecção Oficial dos festivais de TORONTO, SAN SEBASTIAN e DOCLISBOA

um filme de HUBERT SAUPER


http://www.atalantafilmes.pt/2005/opesadelodedarwin/
Os Edukadores

Realização Hans Weingartner
Argumento Katharina Held, Hans Weingartner
Música Andreas Wodraschke


http://www.atalantafilmes.pt/2005/osedukadores/
Quem me dera ser uma vaca japonesa!...
(Mia Couto in Courrier International,nº 42)

Os subsídios para agricultores europeus e norte-americanos foram tema do encontro da Organização Mundial do Comércio, em Hong Kong. Parece assunto para economistas. Não é. Tem que ver com todos nós.
Há décadas que somos confrontados com a produção subsidiada de vegetais e de carne dos agricultores europeus e dos EUA. Numa palavra: fomos aceitar a lógica do mercado livre, mas esse princípio só vale para uns. O proteccionismo continua a ser válido desde que beneficie os próprios países ricos.
Fiquemos com um primeiro facto: uma vaca europeia recebe dois euros diários por via dos referidos subsídios. Uma vaca japonesa recebe 5,7 euros. Milhões de pessoas, entretanto, vivem com 82 cêntimos de euro por dia.
Uma segunda questão: será que esses subsídios vão para o agricultor pobre da Europa? Admire-se o leitor incauto. O príncipe Alberto do Mónaco não será um camponês pobre. Mas ele (juntamente com a rainha Isabel de Inglaterra) figura entre os 58 agricultores mais beneficiados pela chamada PAC (Política Agrícola Comum) da União Europeia.
A terceira questão é uma pergunta: o leitor sabe o que é o dumping? Pois eu não sabia. Aprendi o conceito quando seguia a intervenção da malawiana Irene Banda na referida reunião em H.Kong. Pois o «dumping» consiste na fixação dos preços abaixo dos custos de produção para liquidar a competição. Isso está sendo feito, por exemplo, para o algodão. Os produtores de algodão em África enfrentam essa gigantesca imoralidade. Vamos ver como.
Com uma primeira ressalva: ao falar de algodão não nos referimos a um produto. Falamos, sim, de 20 milhões de africanos que dependem da sua produção. Não é, como se pode ver, um assunto para economistas. O algodão é um bom exemplo de como as distorções comerciais e o tal «dumping» falsearam as normas do relacionamento entre países.
Os reflexos desta injustiça mostram como podemos entender a chamada «ajuda» dos chamados «doadores». Em cinco anos, 25 mil produtores dos E.Unidos receberam 9,8 mil milhões de euros em subsídios. Ao mesmo tempo, devido a uma descida brutal dos preços dos produtos, mais de 10 milhões de agricultores africanos sofreram uma dramática queda de rendimentos.
Em 2001, a ajuda financeira dos EUA ao Mali foi de 31 milhões de euros. O país perdeu por causa desta política proteccionista cerca de 35,4 de euros. O «dumping» do milho nos EUA representa para países como as Honduras, Equador, Venezuela e Peru a perda de 3,3 mil milhões de euros por ano.
A conclusão pode ser apenas esta. Nós, pobres do Terceiro Mundo, pedimos aos ricos o seguinte: não nos dêem mais. Basta que não tirem mais.
Até onde chega a hipocrisia - GOOGLE CHINÊS

O «milagre económico» chinês é indissociável da violenta exploração dos direitos sociais que há naquele país, sob a direcção repressiva do Partido Comunista Chinês. A hipocrisia do ocidente faz com que uma ditadura brutal possa ser considerada um respeitável parceiro comercial. E a opressão mantém-se sobre os cidadãos chineses, com a complacência envergonhada de todos. Desta vez foi o Google que aceitou impôr uma inacreditável censura sobre os seus conteúdos acedidos a partir da China.

Se conseguirem, descubram as diferenças:

Pesquisa no Google chinês

http://images.google.cn/images?svnum=10&hl=zh-CN&inlang=zh-CN&lr=&cr=countryCN&q=tiananmen&btnG=%E6%90%9C%E7%B4%A2

Pesquisa no Google português

http://images.google.pt/images?q=tiananmen&hl=pt-PT&btnG=Procurar+imagens

Fernando Nobre, Presidente da AMI:

O fim da Pobreza e da Miséria:
uma exigência ética, moral e social mais que justa, imprescindível


Que ninguém tenha qualquer dúvida: sem a erradicação da pobreza e da miséria no Mundo, e em Portugal, ou pelo menos uma demonstração inequívoca duma vontade política determinada em se avançar decisivamente nesse sentido, a sociedade humana caminhará inelutavelmente para a violência e a insegurança extremadas.
Não se trata de futurologia ou premonição mas apenas de um diagnóstico social que receio estar certo. Já o disse e escrevi repetidamente: se não acabarmos com essa grande vergonha mundial, mas também nacional, seremos todos responsáveis pelo advir funesto de graves problemas, cujos sinais já são mais que visíveis: o que se passou recentemente na fronteira de Marrocos com os territórios espanhóis do norte de África (que foram nossos), é apenas só mais um sinal anunciador do que será impossível evitar num futuro próximo.
(...)
Nada poderá impedir que os famintos se atirem contra as barreiras de arame farpado, de minas ou de metralhadoras que supostamente defendem a nossa fortaleza evitando que eles se sentem à nossa mesa, farta de proteccionismo, de subsídios agrícolas que aniquilam povos esquecidos e nos enfermam numa obscena e mortal obesidade. Os famintos encontrarão, como sempre encontraram na História da Humanidade, líderes para os guiarem nessa caminhada de sofrimento mas sem escapatória. Não tenhamos ilusões: tal como no passado, nada poderá impedir a caminhada, o êxodo, de milhões e milhões de pessoas para uma visão do Eldorado que eles fazem do nosso mundo, quando comparado com o seu miserável quotidiano.
(...)
O tempo das palavras terminou. Eis chegado o momento das grandes opções e da acção. Pretendo, com a AMI, com todos vós, filhos do mesmo e único Deus, contribuir com uma microgota para a necessária mudança da nossa Humanidade. Acabar com a Pobreza e a Miséria, também entre nós, é imperioso, é inalienável: é simplesmente uma questão de inteligência, de humanismo. Só assim poderemos continuar em Democracia, em Paz e em Segurança. TEM QUE SER e, como digo aos meus filhos e a mim próprio, O QUE TEM DE SER TEM MUITA FORÇA. TEM MESMO QUE SER. Desculpem-me a veemência.

Fernando de La Vieter Nobre Presidente e Fundador da Fundação AMI
In AMI Notícias
Testemunhas Exigem a Verdade em Génova
Milé Sardera em 26-01-2006
(em pt.inymedia.org)

No dia 11 de Janeiro, a inquirição de testemunhas recomeçou no tribunal para o julgamento contra os polícias que invadiram a escola Diaz no dia 21 de Julho de 2001, no final dos protestos contra o G8 em Génova. Durante a 19ª e 20ª inquirição, que se passaram respectivamente nos dias 11 e 19 de Janeiro, várias testemunhas inglesas relembraram as suas experiências na escola Diaz e no Centro de Média, em frente. O primeiro a prestar testemunho foi o repórter da BBC Bill Hayton (http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/4603844.stm), que, por um acaso, esteve presente durante a incursão e pôde recordar-se de toda a noite baseando-se na sua conta de telemóvel. O momento das suas ligações à BBC mostra a sequência dos acontecimentos: ele podia ver tudo do Centro de Média quando a incursão começou, quando a polícia o segurou como "refém" por 40 minutos e quando o libertou, podendo ir ver a destruição causada pela polícia na escola.
Depois de Bill Hayton, o tribunal ouviu Hamish Campbell, um produtor de vídeos que estava no Centro de Média quando a incursão começou e filmou tudo do cimo do prédio de onde se via a escola Diaz. O seu vídeo (https://www.supportolegale.org/?q=node/610 ) é um marco para a acusação, visto que este testemunha a ausência de pessoas a lutar contra a polícia quando os agentes atacaram o dormitório temporário. A tese da defesa diz que, ao invés do facto ocorrido, a polícia foi atacada por pessoas que atiravam objectos contra eles. Do esconderijo no topo do telhado, Hamish Campbell também testemunhou os polícias a bater em Mark Covell (http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/4229777.stm) na rua. Mark Covell, seriamente ferido no incidente, irá testemunhar, juntamente com outras duas testemunhas alemãs, durante a 21ª audiência do julgamento, no dia 25 de Janeiro.

Actualizações da Equipa de Apoio Legal: Inglês (https://www.supportolegale.org/?q=taxonomy/term/15) Espanhol (https://www.supportolegale.org/?q=taxonomy/term/18) Francês (https://www.supportolegale.org/?q=taxonomy/term/16) Filme de versão independente (mms://video.channel4.com/news/2006/01/12_genoa.wmv)
O QUE ANDAMOS A FAZER POR ESSE MUNDO FORA...
Que se saiba, para que tenhamos vergonha na cara (embora não sirva de muito)


Sobre o uso de urânio empobrecido no Iraque (já desde os tempos da guerra do Golfo...)

"Depleted uranium: related birth defects in Iraq"
http://www.aeronautics.ru/archive/du-watch/iraq_images/
"Depleted uranium: the real story"
http://www.afsc.org/pwork/0102/010216.htm

Sobre o uso de fósforo branco na cidade de Fallujah

"The fog of war: white phosphorus, Fallujah and some burning questions"
http://news.independent.co.uk/world/americas/article327094.ece
'I treated people who had their skin melted'
http://news.independent.co.uk/world/middle_east/article327136.ece
"Leading article: An attempt to excuse the inexcusable"
http://comment.independent.co.uk/leading_articles/article327100.ece

CARTA AO PRESIDENTE BUSH

Mia Couto
(por favor, leiam integralmente a "carta". Aqui está só um pequeníssimo excerto)

Senhor Presidente:
Sou um escritor de uma nação pobre, um país que já esteve na vossa lista negra.
Milhões de moçambicanos desconheciam que mal vos tínhamos feito. Éramos pequenos e pobres: que ameaça poderíamos constituir? A nossa arma de destruição massiva estava, afinal, virada contra nós: era a fome e a miséria.
(...)
O Iraque não é Saddam. São 22 milhões de mães e filhos, e de homens que trabalham e sonham como fazem os comuns norte-americanos. Preocupamo-nos com os males do regime de Saddam Hussein que são reais. Mas esquece-se os horrores da primeira guerra do Golfo em que perderam a vida mais de 150 000 homens.
O que está destruindo massivamente os iraquianos não são armas de Saddam. São as sanções que conduziram a uma situação humanitária tão grave que dois coordenadores para ajuda das Nações Unidas (Dennis Halliday e Hans von Sponeck) pediram a demissão em protesto contra essas mesmas sanções. Explicando a razão da sua renúncia, Halliday escreveu: "Estamos a destruir toda uma sociedade. É tão simples e terrível como isso. E isso é ilegal e imoral". Esse sistema de sanções já levou à morte meio milhão de crianças iraquianas.
(...)
Livrar-nos-emos de Saddam. Mas continuaremos prisioneiros da lógica da guerra e da arrogância. Não quero que os meus filhos (nem os seus) vivam dominados pelo fantasma do medo.
(...) O bispo americano Monsenhor Robert Bowan escreveu-lhe no final do ano passado uma carta intitulada "Porque é que o mundo odeia os EUA?" O bispo da Igreja católica da Florida é um ex-combatente na guerra do Vietname. Ele sabe o que é a guerra e escreveu: "O senhor reclama que os EUA são alvo do terrorismo porque defendemos a democracia, a liberdade e os direitos humanos. Que absurdo, Sr. Presidente! Somos alvos dos terroristas porque, na maior parte do mundo, o nosso governo defendeu a ditadura, a escravidão e a exploração humana. Somos alvos dos terroristas porque somos odiados. E somos odiados porque o nosso governo fez coisas odiosas. Em quantos países agentes do nosso governo depuseram lideres popularmente eleitos substituindo-os por ditadores militares, fantoches desejosos de vender o seu próprio povo às corporações norte-americanas multinacionais?"
E o bispo conclui: "O povo do Canadá desfruta de democracia, de liberdade e de direitos humanos, assim como o povo da Noruega e da Suécia. Alguma vez o senhor ouviu falar de ataques a embaixadas canadianas, norueguesas ou suecas ? Nós somos odiados não porque praticamos a democracia, a liberdade ou os direitos humanos. Somos odiados porque o nosso governo nega essas coisas ao povos dos países do Terceiro Mundo, cujos recursos são cobiçados pelas nossas multinacionais."
(...)
Eu gostaria de poder festejar o derrube de Saddam Hussein. E festejar com todos os americanos. Mas sem hipocrisia, sem argumentação para consumo de diminuídos mentais. Porque nós, caro Presidente Bush, nós, os povos dos países pequenos, temos uma arma de construção massiva: a capacidade de pensar.
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Gandhi e o Dia da Não-Violência (30 de Janeiro)


O dia 30 de Janeiro foi proclamado Dia da Não-violência em homenagem a Gandhi cuja morte ocorreu justamente neste mesmo dia no ano de 1948. Trata-se de uma iniciativa não-governamental e independente no âmbito mais geral da educação para a paz, a solidariedade e o respeito pelos direitos humanos.
(...)
O eixo central do pensamento de Gandhi é a Não-violência (Ahinsa) definida como: «A atitude de renúncia a matar e a causar danos aos outros seres por meio de pensamentos, palavras ou acções». Assim, qualquer objectivo, por mais benéfico que seja, não justifica o uso de meios violentos ou contrários à moral.
Gandhi escreve: «A Não-violência é a maior força que existe à disposição do ser humano. É mais poderosa do que qualquer arma de destruição inventada pelo ser humano, e por mais sofisticada que seja».
A este conceito de Não-violência, Gandhi acrescenta o da «Força da Verdade» (Satyagraha) cuja aplicação consiste na desobediência a determinadas leis consideradas injustas, mas ainda na aceitação disciplinada das sanções previstas pelo legislador, de forma a levá-lo à conclusão da ineficácia e insustentabilidade das suas próprias leis.
(...) Segundo a concepção gandhiana o homem deve assumir plenamente a sua autonomia de ser livre e responsável: deve promulgar ele próprio as leis a que deve conformar os seus pensamentos, as suas palavras e acções (autónomo, vem do grego autos, ele próprio, e nomos, lei – ou seja, aquele que é regido pelas suas próprias leis), sem se remeter a qualquer autoridade exterior, seja ela religiosa, social ou política, que lhe ditaria a sua conduta.
É claro que essa autonomia comporta inevitavelmente a possibilidade de se enganar, mas só correndo esse risco é que, segundo Gandhi, o homem pode chegar à verdade. Para ele, o homem sincero não deixará de corrigir o erro quantas vezes forem necessários. Em contraste a isto, o homem que promete a obediência a uma autoridade exterior é que corre o risco de persistir no erro.
«A minha preocupação não está em ser coerente com as minhas afirmações anteriores sobre determinado problema, mas em ser coerente com a verdade».
Aquele que procura a verdade deve convencer-se que está sempre na estrada e que nunca chegará ao fim do caminho. A verdade que ele apreende é sempre fragmentária, relativa e parcial, logo, imperfeita. É por isso que o homem nunca deve querer impor a sua verdade aos outros. A regra de ouro é a da tolerância mútua. Opor-se a um sistema injusto e atacá-lo, está correcto; mas opor-se ao seu autor e atacá-lo é tornar-se naquilo que é o seu adversário, um agressor.

(ler artigo completo)

adaptado de: http://pimentanegra.blogspot.com/

Para consulta: http://www.gandhi.hpgvip.ig.com.br/

United States of Advertising: 3.600 mensagens publicitárias bombardeiam diariamente o cérebro do americano médio

Segundo investigações recentes a publicidade está a atingir números record nos Estados Unidos, invadindo e ocupando tudo o que é espaço público e não parando no dia-a-dia de matraquear os cérebros dos norte-americanos.
O norte-americano médio é quotidianamente bombardeado com 3.600 anúncios publicitários sob as mais variadas formas. Estes números – cerca do dobro do que se regista actualmente em França – não pára de aumentar.
Para além dos meios clássicos (TV, rádio, imprensa escrita,…) a publicidade está, actualmente, em todo o lado em doses maciças: nas ruas, estádios, toilettes, museus, no interior das escolas, nos bancos de jardim, nos filmes que se vai ver nas salas de cinema (somas colossais são investidas pelos publicitários não só nos spots que precedem o visionamento dos filmes, mas também nas cassetes de empréstimo dos blockbuster,…).
Devido ao facto dos órgãos de comunicação do mainstream dependerem cada vez mais das receitas de publicidade, os conteúdos da imprensa são moldados segundo os critérios e os gostos dos publicitários e não tanto segundo critérios jornalísticos ou de interesse público.
Por reacção a esta avalanche várias associações estão a defender uma regulação mais apertada para a actividade publicitária, que inclua uma nova taxa semelhante às taxas que já foram aprovadas para as entidades responsáveis pela poluição.
E ao lado das associações anti-publicidade tão conhecidas como a Adbusters ou a Billboard Liberation Front, têm surgido novas associações a lutar contra a praga publicitária.
Fonte: http://pimentanegra.blogspot.com
Para mais informações consultar: www.freepress.net/issues/pages.php?id=advertising

Sobre a "contra-publicidade" e uma cultura de anti-consumismo no velho continente:

CONSUME HASTA MORIR - contrapublicidad y consumo responsable
http://www.consumehastamorir.org/

EGOGLOBAL - Microdistribución autiovisual
http://www.egoglobal.org/

CLUBE DE COMBATE - Uma luta de palavras e imagens
http://clubedecombate.blog.pt/

ATTAC -. Um outro mundo é possível!
http://www.portugal.attac.org/

para informação alternativa
http://www.infoalternativa.web.pt/
http://www.indymedia.org/pt/index.shtml
www.misna.org

para downloads de Média alternativos
http://www.chomskytorrents.org/
http://indytorrents.org/
Os zapatistas
Boaventura Sousa Santos
Publicado na Visão em 7 de Julho de 2005


Saio da cidade do México num momento em que a classe política e os movimentos e organizações sociais reflectem sobre a última declaração política do movimento zapatista, a Sexta Declaração da Selva Lacandona.
(...) Trata-se de um texto escrito num estilo desconcertantemente simples, dirigido à “gente simples e humilde” e em termos que esta entenda, pleno de ironia e carregado de imagens que apelam à experiência vivida das classes populares.
(...) Destaco nela três aspectos principais. O primeiro consiste na opção mais inequívoca do que nunca, pela acção política pacífica: “o que vamos fazer no México e no mundo, vamos fazê-lo sem armas, com um movimento civil e pacífico”. Está aberta, pois, a possibilidade de o movimento zapatista vir a integrar o Fórum Social Mundial (cuja carta de princípios exclui a luta armada) o que, em meu entender, seria bom para ambos.
(...) O segundo aspecto é que a intervenção zapatista não é feita contra a política, mas antes contra “esta política que não serve, e não serve porque não toma em conta o povo, não o escuta, não faz caso dele, só se aproxima dele quando há eleições e já nem sequer quer votos, pois bastam as sondagens para dizer quem ganha”. Contra uma democracia representativa de baixa intensidade, propõe-se uma democracia de alta intensidade, que combine a democracia representativa com a participativa, pressionando os partidos a partir “de baixo”, ou seja, através de uma forte mobilização social e política, uma campanha nacional para a construção de outra forma de fazer política”, de um programa de luta nacional e de esquerda que esteja para além dos processos eleitorais.
Esta mobilização deixa de se dirigir exclusivamente aos povos indígenas, a base social originária dos zapatistas, para incluir todos os explorados e excluídos: operários, camponeses, jovens, mulheres, deficientes, micro-empresários, reformados, homossexuais e lésbicas, crianças, emigrantes, etc. Trata-se, pois de organizar um vasto movimento social rebelde e pacífico.
O terceiro aspecto a salientar é que a luta social e acção política de base têm de ser, não apenas intersectoriais, mas também transnacionais. A globalização neoliberal, ao globalizar os processos de exclusão social, cria também as condições para organizar globalmente a solidariedade, solidariedade, antes de tudo, com os povos latino-americanos, mas também com todos os outros povos do mundo.
(...)
Economistas japoneses defendem índice de «felicidade nacional bruta»

Um grupo de economistas japoneses defendeu recentemente que o seu país deveria preocupar-se menos com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e inspirar-se no exemplo do Butão, um pequeno reino dos Himalaias, que mede o seu progresso com base num outro tipo de indicador: a Felicidade Nacional Bruta (FNB).
"O Japão tem muito que aprender com o Butão nesta matéria", afirmou Takayoshi Kusago, ex-economista do Banco Mundial e professor da Universidade de Osaka, durante o simpósio subordinado a este tema, organizado em Tóquio no início de Outubro.
Apesar de o PIB do Butão ser de apenas 500 milhões de dólares, quase nove mil vezes inferior ao do Japão (4,4 mil milhões de dólares), desde 1970 que o pequeno reino budista se preocupa sobretudo com o crescimento do índice que mede a felicidade individual dos cidadãos.
A “FNB” leva em conta factores como o desenvolvimento sócio-económico duradouro e equitativo, a preservação do meio ambiente, a conservação e promoção da cultura e a boa governação.
"Em busca de um modelo de desenvolvimento, o Butão não encontrou qualquer índice que estivesse de acordo com os valores e aspirações do país, constatando que o mundo estava dividido entre nações ricas e em nações pobres", explicou o economista butanês Karma Galay.
Os economistas japoneses admitem que no respeitante ao índice de FNB, os progressos do Butão são muito superiores aos do Japão, onde a taxa de suicídio é uma das mais elevadas do mundo e não raramente ocorrem mortes por excesso de trabalho.
Os economistas destacaram ainda o facto de as crianças do Butão serem praticamente especialistas em questões de meio ambiente, matéria que, na opinião de Shunichi Murata, professor da Universidade Kansei Gakuin, é “muito melhor do que se ensina geralmente aos meninos japoneses".
ECOCONSUMIDOR - consumo sustentável na deco-proteste

No link abaixo pode fazer-se o simulador do "desempenho ambiental" lendo as dicas para melhorar.

http://wpop27.libero.it/cgi-bin/vlink.cgi?Id=nA1h4cBKAXe4C5UwjV1ORQ4HNugWYTEaP5GHXtXIqs%2Bk8YXBVSwbLd3yi/JJIvmN&Link=http%3A//www.deco.proteste.pt/map/src/316081.htm

2 de fevereiro de 2006



COLÔMBIA: Sobre a impossibilidade de uma neutralidade pacífica

http://www.selvas.org/newsCO0106.html
Si seco un llanto


Un día, junto al mar, la más triste canción
oyó llorar a un alma su dolor,
y a por el alma fue
vibrando la tonada,
conmovida y gentil,maravillada.

¿Qué pena lloras tú
-le dijo la canción-
que me has trocado en gracia el corazón?
¿De qué me sirve a mí
-le respondió un sollozo-
la virtud, si no tengo un canto hermoso?

Sospecho que hoy empiezo a ser canción.
Y tengo la impresión
de que seré tu sol si logro ser tu canto.
Sospecho que hoy empiezo a ser canción,
si seco un llanto.

Un día, junto al mar,
un alma halló su voz
y una tonada hallaba su razón.
Fue el día en que nació
la verdad hechizada:
la melodía y el alma enamoradas.
El alma con canción
iluminó su hogar,
y la canción con alma echó a volar.
Desde entonces las dos
vivieron más despacio,
a pesar de su tiempo y de su espacio.

Sospecho que hoy empiezo a ser canción.
Y tengo la impresión
de que seré tu sol si logro ser tu canto.
Sospecho que hoy empiezo a ser canción,
si seco un llanto.


Silvio Rodriguez