23 de fevereiro de 2009

O fundamentalismo que protesta

Recentemente, para minha surpresa, redescobri um certo orgulho na minha Igreja. Olhei-a como a uma pecadora regenerada, alguém que estava perdida e se reencontrou.
Revalorizei a História que lhe trouxe capacidade de reconversão e que a tem tornado mais razoável, mais autocrítica, muito mais capaz de diálogo e desejosa de estabelecer laços com outras formas de fé e de espiritualidade.
Percebi que a vontade de reconciliação ecuménica não me veio de fora, pois foi a minha Igreja que me levou a Taizé.
Apesar do que quer que diga o Vaticano, com que só me identifico a respeito de temas sociais (e é teoricamente...), foi na minha Igreja que encontrei as pessoas que mais me formaram e que me conduziram à tolerância e a uma genuína abertura. Abertura, aliás, que não sei se possuo, mas de que tenho uma enorme vontade.
Foi na minha Igreja que percebi que não há a minha Igreja, que não há uma ortodoxia, que não é relevante para mim o caminho oficial, que qualquer rivalidade a esse nível é ridícula.
Hoje discordo da Igreja em mais aspectos do que aqueles com que concordo. Hoje tenho mais e melhores amigos sem fé, do que crentes. Mas foi a minha Igreja que me conduziu a esta postura, e agradeço-lhe por isso.


Se quiserem, está aqui o meu recente diálogo com evangélicos fervorosos e desejosos de marcar a diferença (e que me assustaram, como o Mel Gibson assusta enquanto neo-convertido fundamentalista...)

19 de fevereiro de 2009

Armas e violência em Portugal


O Observatório sobre o Comércio e a Proliferação das Armas Ligeiras organiza hoje, na linha do trabalho regular que tem vindo a desenvolver ao longo dos últimos anos, uma Audição Pública, sob o tema: «Armas e violência: um retrato português».
Consulte Programa e Nota de Imprensa relativos a esta acção, que contará com a intervenção do Secretário de Estado da Administração Interna, Rui de Sá Gomes.
A Audição Pública vai decorrer no Centro Nacional de Cultura, Rua António Maria Cardoso, 68 e Largo do Picadeiro, 10, ao Chiado, em Lisboa.

16 de fevereiro de 2009

Para desanuviar

A little old lady from Wisconsin had worked in and around her family dairy farms since she was old enough to walk, with hours of hard work and little compensation.
When canned Carnation Milk became available in grocery stores in the 1940s, she read an advertisement offering $5,000 for the best slogan. The producers wanted a rhyme beginning with 'Carnation Milk is best of all."
She thought to herself, I know all about milk and dairy farms. I can do this!

She sent in her entry, and several weeks later, a black limo pulled up in front of her house.
A man got out and said, 'Carnation LOVED your entry so much, we are here to award you $2,000 even though we will not be able to use it!'



12 de fevereiro de 2009

Clark Kent ou super-homem

Reflecti recentemente sobre a questão da máscara.
Sobre o seu duplo sentido de objecto criador de uma identidade, ou instrumento para esconder a nossa verdadeira identidade.



Reparemos nas máscaras dos super-heróis da banda desenhada: ao usá-las, os super-heróis não só assumem uma identidade diferente e extra-ordinária (fora do comum), como escondem a identidade original, não podendo ser dois personagens ao mesmo tempo.
(...) As palavras pessoa e personagem têm como base etimológica a palavra persona, ‘máscara’ em grego. Ser pessoa será, então, assumir desde sempre e para sempre uma máscara? Ser-nos-á intrínseca a arte de fingir, de esconder, de assumir camadas postiças de identidade?

Hoje esta questão é mais premente do que nunca. Com efeito, é provável que poucos de nós se conheçam a si mesmo realmente. Conheçam a sua verdadeira identidade, para lá da(s) máscara(s). Para se conhecer alguém, é preciso tempo – todos sabemos isso.
Ora, como podemos nós conhecer-nos, se nunca temos tempo para estar connosco próprios? Se raramente paramos para pensar, reflectir, olhar para dentro?
(...) E haverá algo mais fundamental? É que, reparem: se eu não perceber onde se situa o meu verdadeiro eu, se não investir na construção e no aperfeiçoamento da minha verdadeira identidade, todo o investimento da minha Vida será desperdiçado, será como dedicar todas as forças a encher de água um balde furado…. No fim ficará só a casca, o invólucro em torno de uma identidade vazia.

Quero ser um balão insuflado que a qualquer momento pode rebentar e revelar a sua vacuidade? Ou quero viver na construção daquela alma divina, aquele pedaço de mim que realmente me torna único, que me distingue da massa humana que a todos parece absorver?


(...) Como nos diz Manuela Silva na sua reflexão do mês de Fevereiro (site da Fundação Betânia):

“O ser humano experimenta em si mesmo uma dupla natureza.
Reconhece-se na sua dimensão corporal, sujeito às leis da matéria e às coordenadas do ambiente em que vive. Tem fome e tem sede, calor e frio. (…) Mas, não obstante a importância desta sua condição existencial, o ser humano dá-se conta que não lhe está confinado.
(...) Matéria e espírito ou, melhor, matéria habitada pelo espírito, o ser humano aspira a ir além de si mesmo e, em condições normais, mostra-se incansável na busca de caminhos que, supostamente, lhe tragam felicidade, harmonia, paz interior, alegria de viver.
As condições de vida podem, porém, abafar esta inclinação para a transcendência e obstar a que se percorra um caminho pessoal de maturidade humana e de unificação interior.”

A maior máscara pode ser, então, o limitarmo-nos à nossa dimensão terrena, material, à mesquinhez de aspirações a ter e poder que nos são impostas, mais do que genuinamente desejadas. A maior máscara é sermos só humanos, só Clark Kent. Pois a verdadeira identidade de cada homem e cada mulher é ser um super-herói.

(do texto que escrevi para a publicação Inútil do Colégio Amor de Deus)

11 de fevereiro de 2009

Salmo 86 (tradução do latim, ou «resposta aos salmos», de Paul Claudel)


Viens, ô mon Dieu, que je Te parle à l’oreille: il n’y a que Ton oreille, ô mon Dieu, qui soit capable de me regarder.
Au-dessous de tout cela en moi, Tu vois bien qu’il y a quelque chose de saint: quelque chose de tout petit, ô mon Dieu, qui Te regarde et qui a foi.
Écoute! Quelque chose vers Toi nuit et jour en moi qui ne cesse de pousser des cris! Quelque chose vers Toi de pas fort qui essaye de se lever!
Il y a une telle soif en moi de Ta tendresse et de Ta suavité, et de tout ce que l’on m’a raconté de Ta miséricorde!
De cette oreille en Toi qu’il y a derriére l’oreille, écoute cês lévres qui s’agitent et ce long effort en moi vers Toi qui essaye de devenir une syllabe!Ma douleur pour que tu viennes à mon secour, est-ce que cela ne suffit pas, et cette épine dans ma chair comme un cri qui continue?
Que je T’entende seulement, ô mon Dieu, bouche à bouche, m’expliquer qu’il n’y a pas quelqu’un de semblable à Toi!
Quand Tu es là, ô mon Dieu, un tas de choses, il y a un tas de choses en moi qui se mettent à genoux!
A quoi est-ce que cela Te sert-il d’être si grand, puisque cela ne m’empêche pas de dire: Toi seul!
Montre-moi tout bas le chemin! Apprends-moi, aussi bas que Tu le voudras, Ton nom!
Donne-moi l’Éternité, Seigneur, pour que j’aie de quoi Te dire: Oui!



obrigada francisco

9 de fevereiro de 2009

A um amigo de para sempre



Povoamento – Dedicatória (Ruy Belo)


No teu amor por mim há uma rua que começa
Nem árvores nem casas existiam
antes que tu tivesses palavras
e todo eu fosse um coração para elas
Invento-te e o céu azula-se sobre esta
triste condição de ter de receber
dos choupos onde cantam
os impossíveis pássaros
a nova primavera
Tocam sinos e levantam voo
todos os cuidados
Ó meu amor nem minha mãe
tinha assim um regaço
como este dia tem
E eu chego e sento-me ao lado
da primavera
A minha convicção

Ser pobre é ter necessidades.
(Quantos pobres há, então, entre os ricos!)
A felicidade é não querer mais do que o que se tem.


A minha dúvida

Haverá um contrasenso, então, em querer ser feliz?


Para reflectir amanhã

Quem parece ter tudo e não querer nada, e morre de marasmo. Os que se suicidam na Suécia e que rapidamente interpretamos como vítimas da abundância e da falta de sentido de uma vida em que não há nada por que lutar.
Onde é que se situam nesta classificação? São pobres de quais necessidades? Não me respondam: "têm necessidade de ter necessidades", porque já estabeleci como convicção primeira que ter necessidades nos escraviza e empobrece. Acho que é falso esse lugar comum que precisamos de ser estimulados pelo "querer".
Mas o certo é que esta minha premissa está a mostrar-se mais polémica - mesmo dentro de mim - do que eu pensava.

8 de fevereiro de 2009

sonhos de vida comunitária


Monticiano (Toscana)

Rir é o melhor remédio

A não perder:

PORTUGAL/ITÁLIA versus EUROPA

1 de fevereiro de 2009