26 de abril de 2010

Eu na rádio, numa entrevista sobre a liberdade

Aqui, entrevista entre 16’25’’ e 40’25’’.

25 de abril de 2010

Querido aluno que estás há uma semana a preparar-te para festejar o 25 de Abril

Como explicar-te as decepções que tenho tido?

Como poder dizer-te que já não desço a avenida, sem arriscar queimar-te etapas que têm de ser percorridas - que deveriam ser percorridas por todos?

Gosto dos teus cartazes do MFA e tenho efectivamente aqui em casa aquele da Vieira da Silva que diz que a poesia está na rua. E acredito que esteve, e comovo-me a ver a alegria das pessoas naquele belíssimo documentário do Sérgio Tréfaut (que te aconselho: "Outro país"), ou as imagens do povo todo a descer a rua, aquelas célebres imagens que passam repetidamente nas reportagens.


Mas também é verdade que ontem no Largo do Carmo, onde passei por mero acaso, estavam as mesmas barraquinhas de todos os anos e os mesmo slogans e um homem a cantar "uma gaivota voava, voava" - e eu, querido aluno, já não suporto isto.

Como explicar-te que é retórica?

Que partilho contigo os ideais, mas estou farta de toda a conversa da esquerda, e dos vícios e da pequenez e da falta de meritocracia, e da repetição saudosista, e das palas nos olhos e do vitimismo e da demonização dos outros?

Não, é melhor não te dizer estas coisas.

Desce a avenida, sim, e até podes ir para a cidade universitária no primeiro de Maio. E, sobretudo, envolve-te, conhece o mundo do associativismo de esquerda por dentro. Faz isso tudo. E daqui a 10 anos falamos.

24 de abril de 2010

Erosão

Em dias como este, acho que estou a ficar velha porque dantes o convívio com os jovens dava-me um sentido de pertença e agora dá-me um sentido de exclusão.
E disse-me aquele amigo ontem a frase genial que leu não sei onde: o problema da juventude é que é desperdiçada nos jovens.

22 de abril de 2010

Breve caracterização de um flirt púdico

Ao contrário do se pensa, flirtar não é uma actividade exclusivamente romântica. Nem só as pessoas que pretendem atingir um nível considerável de intimidade física flirtam. Qualquer pessoa que queira ser apreciada e aceite num âmbito onde lhe falta alguma coisa (amizade, amor, trabalho), flirta, isto é, seduz e deixa-se seduzir com gosto.
Flirtar é falar de coisas banais, olhando-se nos olhos de forma ambígua, e sentir que foi tudo muito profundo. É passar subrepticiamente do cenário real onde nos encontramos para um cenário alternativo, de cores mais vivas e sensações mais cruzadas e presentes. E sentir magia, mesmo num parque de estacionamento.
Os amigos recentes flirtam, os vizinhos flirtam, os colegas de trabalho flirtam. Têm momentos fugazes em que sentiram que estavam a viver um segredo (mesmo à luz do dia) e que só o outro (o parceiro do flirt) é que percebe exactamente o que aqueles 20 segundos significaram.
A idade é irrelevante, as diferenças de idade também, e, surpreendentemente, embora seja mais habitual que os dois sujeitos do flirt sejam de sexos diferentes (ou reciprocamente atractivos, para não excluir ninguém), nem isso é imprescindível. Duas amigas que acabaram de se conhecer e desejam imenso agradar uma à outra para encontrarem a confidente ideal, flirtam. Há que admiti-lo.
Claro que nem sempre estamos numa de flirtar, claro, e nem com toda a gente. É preciso estar na mesma disposição, ao mesmo tempo, na mesma altura. O que, na verdade, nem sempre acontece, mas também não é assim tão difícil. E quando começa o flirt, nem é preciso gostar das mesmas piadas e ter a mesma agilidade cognitiva: porque quando flirtamos, ficamos todos muito mais susceptíveis e qualquer boca fácil se torna irresistível.
É digno de nota que flirtar implica uma intimidade inesperada, por isso velhos amigos não flirtam. Em geral. Mas, pelo contrário, breves flirts podem evoluir para se tornarem bons amigos.
Ou não. Também podem desaparecer como todas as coisas breves. E voltar só a ser colegas de trabalho.
Permanecerá a sensação incómoda de que aquele momento com aquela conversa sob aquela luz ténue foi especial e se perdeu. Até ao dia em que parecerá só pateta.
E então está definitivamente na altura de arranjar outro flirt.

18 de abril de 2010

Carta aberta aos bispos de todo o mundo

A não perder esta belíssima e corajosa carta aberta de Hans Küng, teólogo contemporâneo de Joseph Ratzinger, que com ele esteve presente no Concílio Vaticano II e que agora classifica o seu pontificado como o das "oportunidades desperdiçadas": aqui.

17 de abril de 2010

Divagações sobre a minha descrença



Não consigo deixar de sentir esta convicção de que Deus não brinca e não é incoerente. Deus não me teria dado a Razão para depois exigir que eu abdique totalmente dela quando me quero relacionar com Ele. Por isso sou considerada descrente. Porque questiono a lógica da fé e da confiança, quando me parece irracional.

A história de rezar para pedir coisas boas, por exemplo. Não é lógico não culpabilizar Deus pelas coisas más e depois achar que é Ele o responsável pelas coisas boas. Se Deus interviesse na minha vida desta forma (pede e ser-te-á dado), o que é que aconteceu no caso do meu amigo Ricki que está com um cancro em fase terminal no hospital, com 35 anos e reduzido a 50 kilos?
Ninguém quer achar que Deus tem alguma culpa disso, e eu percebo, mas então também não é d'Ele a responsabilidade de me dar aquilo que eu lhe peço nas orações. Ou é responsável por tudo (bom e mau) ou não é responsável por nada. Se não, não era Deus, era um Macgyver que às vezes consegue ser bem sucedido nas suas tentativas de salvar o mundo, e outras não.
E isto aplica-se também aos milagres, naturalmente.
Ontem estive a falar destas coisas com uns amigos meus que são todos new age e acreditam na Energia e no Universo como entidade que nos dá tudo aquilo de que precisamos, basta confiar. Tudo começou com um episódio impressionante que aconteceu quando eu estava a chegar de carro com uma amiga a quem eu estava a dar uma boleia. Eu queria estacionar o carro num lugar que vi e que ficava a uns 100 ou 200 metros da porta da casa para onde nos dirigíamos. O contexto era o centro de Lisboa, com o habitual caos para estacionar, naturalmente. Ela, que tem uma deficiência grave e muitas dificuldades de mobilidade, disse que não, para eu continuar a aproximar-me da porta e confiar no Universo, que haveriamos de encontrar um lugar mais adequado às nossas necessidades. E pimba, incrível mas é verdade, estava um lugar à nossa espera mesmo à porta. Este episódio deu logo o mote para montes de conversas ao longo do serão, sobre a minha "descrença" no universo, que me impede de estar receptiva às coisas boas da vida. Mas, lá está, eu não consigo simplesmente suspender o meu lado racional.

Isto de as coisas boas dependerem da crença de que vão acontecer para acontecerem, é de tal forma anti-científico e placébico que eu sinto-me regressada aos tempos mitológicos se pensar assim. Acredita, e o Universo dar-te-á aquilo que lhe pedires (ou aquilo de que precisas). Se não to der, podemos sempre alegar que 1) não acreditaste o suficiente; ou 2) que aquilo que estavas a pedir não era aquilo de que realmente precisavas e o universo, que é mais inteligente do que tu, optou por te dar as coisas certas. É como a astrologia: bate sempre certo! Retire-se a palavra "universo" desta frase e ponha-se a palavra "Deus", e vemos que o raciocínio das pessoas que têm "muita fé" é exactamente o mesmo.

Isto é conversa de charlatão. Não consigo aderir a isto, e o meu amigo Ricki, que é das pessoas mais positivas e entusiastas da vida que eu alguma vez conheci, e que neste momento está morrer cheio de sofrimento no hospital, confirma a minha suspeita.
Dizer "não há coincidências", "nada acontece por acaso", é negar a evidência. É utilizar os casos que confirmam esta tese (tipo o lugar de estacionamento de ontem) e ignorar todos os outros, o terramoto no Haiti, os judeus da 2ª guerra mundial, o cancro do Ricki. Ou então, pior ainda, querer convencer-nos que as vítimas desta História global em que estamos inseridos, também estão a realizar o seu papel, que o sentido de tudo isto nos escapa mas existe, e que o sofrimento deles era de alguma forma necessário para a harmonia do todo. Porra. Isso ainda é mais revoltante. Como se Deus (ou o Universo) instrumentalizasse as pessoas assim. Como nos casos em que escapamos ilesos a um acidente em que 5 outras pessoas morreram, e dizemos que Deus estava do nosso lado. Que o Universo conspirou a nosso favor. E os outros? São filhos bastardos do Universo? São os menos preferidos de Deus? Não, são os tais que precisam de sofrer para a harmonia do todo, aqueles que, numa tela gigante, têm o papel de sombras.

É muito mais agradável andar pela vida a achar que temos anjos da guarda ao nosso lado (ou forças cósmicas e energia com esse mesmo papel). Mas eu sinto interiormente esta forte convicção de que isso é regressar aos Lusíadas (que já na altura eram assumidamente ficção) e achar que somos marionetas nesta estória em que se faz de nós o que se quiser, em que os deuses ajudam uns e não outros porque lhes apeteceu.

E, repito, se houver um deus que me criou e me ama, Ele não me teria dado esta racionalidade insistente para depois exigir de mim que a ignore nos assuntos da fé. Claro que é pela Fé que eu posso acreditar que Ele existe. Mas depois, o caminho da fé não pode ser contraditório com as luzes da Razão.

15 de abril de 2010

MATT E JESSICA FLANNERY: EMPRÉSTIMOS QUE MUDAM VIDAS

Kiva quer dizer, em swahili, "união".

O Kiva representa a democratização da micro-finança. Matt e Jessica Flannery, criaram o Kiva em 2005 após uma viagem pelo continente africano. O casal ficou perplexo com as coisas fantásticas o que os empreendedores africanos que faziam com as suas famílias e com tão pouco dinheiro e isso suscitou-lhes uma ambição: como podemos nós participar desta transformação social? O Kiva foi a primeira plataforma online de micro-empréstimos, permitindo ao grande público financiar empreendedores em mais de 42 países em desenvolvimento. Ao longo do tempo, os empreendedores pagam seus empréstimos e o investidor têm a opção de recuperar sem juros seu investimento ou financiar um novo projecto. O site tem mais de 270.000 de pessoas que emprestam que, em geral, fazem empréstimos através do cartão de crédito, em montantes de 25 dólares por vez. Os empréstimos já ajudaram 40.000 micro-empresários em mais 40 países, num total de 27 milhões de dólares em financiamentos.

Ler o artigo completo sobre Kiva.org

13 de abril de 2010

A propósito da reportagem da Pública: "ser gay e católico em Portugal"

«A tolerância para com aqueles que têm opções sexuais diversas está tão conforme com o Evangelho e com a razão, que parece monstruoso que haja homens a ver mal, com uma tão clara luz.»


(adaptado de John Locke, Carta sobre a Tolerância, 1685 - no original, em vez de "opções sexuais diversas", leia-se "opiniões religiosas diversas")

Artigo da Pública aqui.

11 de abril de 2010

4 de abril de 2010