13 de março de 2011
22 de dezembro de 2010
Os frutos
«Olá professora J.
Não falo consigo há muito, muito tempo. Mas, passados dois anos e meio de eu ter saído do colégio, quase a acabar o meu curso, de Erasmus em Paris, lembrei-me de si.
Vi uma entrevista a um filósofo, Robert Happé, que me chocou e emocionou com a simplicidade com que ele fala sobre a Vida.
Está dividido em 4 partes, se tiver tempo aconselho muito a ver
http://www.youtube.com/watch?v=tJypbzHlzWU
A professora conheceu-me numa altura em que ainda não tinha opiniões formadas nem objectivos definidos, e dou graças por isso.
Foi a primeira pessoa que nos consciencializou e nos abriu novos horizontes para além da sociedade desgastada onde vivíamos (e vivemos), para além dos interesses e dos pensamentos imaturos da idade.
Agora, com quase 21 anos, estou a meio de uma caminhada, de um crescimento onde, finalmente, penso estar a encontrar-me.
Esta entrevista descreve muitas das ideias que me têm acompanhado nas minhas reflexões e sentir-me-rei realizado se algum dia conseguir olhar para a vida como este homem olha.
Estou a enviar-lhe este e-mail porque esta caminhada começou no 11º ano com a professora, apesar de na altura eu não me ter apercebido.»
Nestes dias de transição entre a minha missão como professora e a minha missão como mãe, partilho aqui um vídeo que me foi enviado por um ex-aluno, juntamente com as palavras que reporto acima, e que me deixou muito feliz.
A "colheita" dos meus primeiros alunos está este ano, na sua grande maioria, em Erasmus (estão no 3º ano da faculdade). E tem sido uma benção enorme receber sucessivos emails de alguns deles, que partilham comigo as suas impressões e, sobretudo, a redescoberta que estão a fazer de muitas das coisas que lhes ensinei ou que discuti com eles, há quatro ou cinco anos, e que ficaram guardadas nos seus corações à espera do tempo certo para germinar. E esse tempo chegou agora, já com 21 anos, à descoberta do mundo em cidades novas, em contacto com muitas pessoas e experiências diferentes que os desinstalam e os fazem pensar. Os mails têm vindo às vezes de alunos com quem eu nunca mais tinha falado, ou com quem eu não tinha ficado com uma relação especialmente próxima. Ainda tem sido mais bonito por isso mesmo, pela surpresa e o privilégio de ver os frutos de um trabalho que, pela sua natureza, é de confiança no mistério: será que irá germinar, isto que estou a fazer com os miúdos? Em quem dará fruto? E que fruto?
É uma benção enorme poder vislumbrar esse futuro que agora se tornou presente, à medida que eles se tornam homens e mulheres e têm a generosidade de olhar para trás e me saudar, de longe.
20 de dezembro de 2010
9 de dezembro de 2010
6 de dezembro de 2010
3 de dezembro de 2010
Le testament de Tibhirine
Quand un à-Dieu s'envisage
S’ il m’arrivait un jour - et ça pourrait être aujourd’ hui -
d’être victime du terrorisme qui semble vouloir englober maintenant
tous les étrangers vivant en Algérie,
j’aimerais que ma communauté, mon Eglise, ma famille,
se souviennent que ma vie était DONNEE à Dieu et à ce pays.
Qu’ils acceptent que le Maître Unique de toute vie
ne saurait être étranger à ce départ brutal.
Qu’ils prient pour moi:
comment serais-je trouvé digne d’une telle offrande ?
Qu’ils sachent associer cette mort
à tant d’autres aussi violentes
laissées dans l’indifférence de l’anonymat.
Ma vie n’a pas plus de prix qu’une autre.
Elle n’en a pas moins non-plus.
En tout cas, elle n’a pas l’innocence de l’enfance.
J’ai suffisamment vécu pour me savoir complice du mal
qui semble, hélas, prévaloir dans le monde,
et même de celui-là qui me frapperait aveuglément.
J’aimerais, le moment venu, avoir ce laps de lucidité
qui me permettrait de solliciter le pardon de Dieu
et celui de mes frères en humanité,
en même temps que de pardonner de tout cœur
à qui m’aurait atteint.
Je ne saurais souhaiter une telle mort.
Il me paraît important de le professer.
Je ne vois pas, en effet, comment je pourrais me réjouir
que ce peuple que j’aime soit indistinctement
accusé de mon meurtre.
C’est trop cher payer ce qu’on appellera,
peut-être, «la grâce du martyre»
que de la devoir à un Algérien, quel qu’il soit,
surtout s’il dit agir en fidélité à ce qu’il croit être l’Islam.
Je sais le mépris dont on a pu entourer
les Algériens pris globalement.
Je sais aussi les caricatures de l’ Islam
qu’encourage un certain islamisme.
Il est trop facile de se donner bonne conscience
en identifiant cette voie religieuse
avec les intégrismes de ses extrémistes.
L’Algérie et l’Islam, pour moi, c’est autre chose,
c’ est un corps et une âme.
Je l’ai assez proclamé, je crois,
au vu et au su de ce que j’en ai reçu,
y retrouvant si souvent ce droit-fil conducteur de l’Evangile
appris aux genoux de ma mère, ma toute première Eglise,
précisément en Algérie, et déjà,
dans le respect des croyants musulmans.
Ma mort, évidemment, paraîtra donner raison
à ceux qui m’ont rapidement traité de naïf, ou d’idéaliste:
«Qu’il dise maintenant ce qu’il en pense!»
Mais ceux-là doivent savoir que sera enfin libérée
ma plus lancinante curiosité.
Voici que je pourrai, s’il plaît à Dieu,
plonger mon regard dans celui du Père,
pour contempler avec lui Ses enfants de l’Islam
tel qu’Il les voit, tout illuminés de la gloire du Christ,
fruits de sa Passion, investis par le Don de l’Esprit
dont la joie secrète sera toujours d’établir la communion
et de rétablir la ressemblance, en jouant avec les différences.
Cette vie perdue, totalement mienne, et totalement leur,
je rends grâce à Dieu qui semble l’avoir voulue tout entière
pour cette JOIE-là, envers et malgré tout.
Dans ce MERCI où tout est dit, désormais, de ma vie,
je vous inclus bien sûr, amis d’ hier et d’ aujourd'hui,
et vous, ô mes amis d’ ici, aux côtés de ma mère et
de mon père, de mes sœurs et de mes frères et des leurs,
centuple accordé comme il était promis !
Et toi aussi, l’ ami de la dernière minute,
qui n’ auras pas su ce que tu faisais.
Oui, pour toi aussi je le veux, ce MERCI,
et cet «A-DIEU» en-visagé de toi.
Et qu'il nous soit donné de nous retrouver, larrons heureux,
en paradis, s'il plait à Dieu, notre père à tous deux.
AMEN !
Incha Allah !
Alger, 1er décembre 1993
Tibhirine, 1er janvier 1994
Geração mimada e uma crise que faz bem
28 de novembro de 2010
Advento
Não nos deixes acomodar ao saber daquilo que foi:
dá-nos largueza de coração para abraçar aquilo que é.
Afasta-nos do repetido, do juízo mecânico que banaliza a história,
pois a priva de surpresa e de esperança.
Torna-nos atónitos como os seres que florescem.
Torna-nos inacabados como quem deseja.
Torna-nos atentos como quem cuida.
Torna-nos confiantes como os que se atrevem
a olhar tudo, e a si mesmo, de novo
pela primeira vez.
Num 1º domingo de Advento em que, para mim, a espera do menino Jesus se torna a espera do anjo Gabriel, aquele que anuncia um tempo totalmente novo, e que cresce, cresce, no mais profundo segredo de mim e a qualquer momento me pode bater à porta.
24 de novembro de 2010
Do amor, da fé, da vida e da morte, do bem e do mal
A obra, reconhecida com o Grande Prémio do Festival de Cannes e merecedora da forte e comovida chuva de aplausos que encheram o Palais des Festivals na noite do passado 23 de Maio, é uma extraordinária ode à fé, ao amor ao próximo e ao espírito de serviço que cumpre, em estilo e estrutura narrativa, o despojamento do seu sujeito.
Com efeito, é-nos dado comungar a forma abnegada como uma comunidade de homens lida com uma realidade adversa para a qual não contribui senão com a sua vocação de amor e dádiva. Uma vocação reafirmada ao arrepio das pressões externas para abandonarem a aldeia que servem à sua sorte.
Sem ceder a tentações sensacionalistas, Beauvois desvenda aos nossos olhos o dia-a-dia daquele pequeno mosteiro de Tibhirine, dos seus oito habitantes e da pacata população da aldeia local, induzindo progressivamente o adensar do contexto violento que involuntariamente envolve uns e outros.
Simples e acessível, a linguagem fílmica pretere o horror dos acontecimentos, trágicos, e da crescente violência, ao espírito com que aquela irmandade os enfrenta. Um espírito sustentado na sua extraordinária força e revitalizado na dúvida e fraqueza pela oração, pelo permanente desejo de união e comunhão, pelo tempo e oportunidade concedidos ao discernimento.
Mais que um nefasto episódio da história política ou religiosa, estamos perante uma obra que nos propõe um caminho, pela busca do verdadeiro sentido da vida: o que os sete monges sacrificados, na sua fé cristã, encontraram, e que Xavier Beauvois tão bem percorre, alumiando-o para crentes e não crentes.
No Câmara Clara
19 de novembro de 2010
Para apurarmos a consciência da realidade
(The story of stuff project - onde encontramos os vídeos "The story of stuff", "The story of bottled water", "The story of Cosmetics"... etc)
Para recuperarmos da depressão
Para nos deprimirmos um bocadinho mais
14 de novembro de 2010
Câmara Clara - daqui a uma semana
no próximo domingo, dia 21 de Novembro, estarei com o professor Marçal Grilo no Câmara Clara (RTP2 às 22h30) a falar da "importância das humanidades".
É daqueles programas que me faz ter pena de não ter televisão: é mesmo bom. Espreitem aqui e "apareçam" por lá daqui a uma semana.
8 de novembro de 2010
Aminetu Haidar em Portugal
14 de Novembro de 2009. Aminetu Haidar é expulsa do seu país ocupado (o Sahara Ocidental) pelas autoridades marroquinas quando regressava a El Aiun, depois de ter recebido em Nova Iorque o Prémio Robert F. Kennedy; distinção atribuída anualmente pela prestigiada fundação a defensores dos direitos humanos que se tenham distinguido pela sua coragem, pondo em risco as suas próprias vidas. Sobre Haidar pendia a acusação: ter escrito SAHARAUI no espaço reservado à nacionalidade do impresso de fronteira.
Após 32 dias de greve de fome, na inóspita aerogare de Lanzarote, Canárias, Aminetu fez vergar a prepotência da potência ocupante e congregou a simpatia e a solidariedade à resistência do seu Povo em todo o mundo.
Nos momentos mais dramáticos da longa greve de fome, José Saramago — preocupado com o débil estado de saúde de Aminetu —, escrevia à consciência mundial: “Aminetu não tem um problema. Um problema tem seguramente Marrocos. E pode resolvê-lo… terá que resolvê-lo. Não se trata apenas de um problema de uma mulher corajosa e frágil, mas sim o de todo um povo que não se rende já que não entende nem a irracionalidade nem a voracidade expansionista, que caracterizavam outros tempos e outros graus de civilização…”
Aminetu Haidar está agora em Portugal para agradecer a todos aqueles que, há um ano atrás,
se solidarizaram com a sua luta.
Vamos recebê-la carinhosamente, associando-nos à iniciativa da Reitoria da Universidade de Lisboa.
ENTRADA LIVRE - DIVULGUEM A INICIATIVA DA REITORIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA