3 de junho de 2010

Prémio Camões 2010

Fico feliz de já ter tido a oportunidade de aqui dar a devida visibilidade a Ferreira Gullar com a sua Notícia da Morte de Alberto da Silva.

Aqui ficam agora mais dois poemas seus:



Despedida

Eu deixarei o mundo com fúria
Não importa o que aparentemente aconteça,
se docemente me retiro.
De fato
nesse momento
estarão de mim se arrebentando
raízes tão profundas
quanto estes céus brasileiros.
Num alarido de gente e ventania
olhos que amei
rostos amigos tardes e verões vividos
estarão gritando a meus ouvidos
para que eu fique
para que eu fique
Não chorarei.
Não há soluço maior que despedir-se da vida.


Alegria

O sofrimento não tem
nenhum valor
Não acende um halo
em volta de tua cabeça, não
ilumina trecho algum
de tua carne escura
(nem mesmo o que iluminaria
a lembrança ou a ilusão
de uma alegria).

Sofres tu, sofre
um cachorro ferido, um inseto
que o inseticida envenena.
Será maior a tua dor
que a daquele gato que viste
a espinha quebrada a pau
arrastando-se a berrar pela sarjeta
sem ao menos poder morrer?

A justiça é moral, a injustiça
não. A dor
te iguala a ratos e baratas
que também de dentro dos esgotos

espiam o sol
e no seu corpo nojento
de entre fezes
querem estar contentes.

2 comentários:

  1. Veja-me este vídeo:

    http://www.youtube.com/watch?v=VOABATv8Oj4&feature=related


    Bj

    ResponderEliminar
  2. ????????????????????????????

    ResponderEliminar