21 de novembro de 2008

Belíssimo discurso

...sobre como a vida escreve direito por linhas tortas, se soubermos dar-lhe espaço, e sobre como a morte pode ser inspiradora. Parece uma "banhada", talvez....

... mas talvez também não seja.

Números, pobreza e preconceitos

Acabam de ser publicados no blog da Audição "Dar voz aos pobres", dois posts com alguns dos dados que foram apresentados na própria audição de dia 8.
Graças aos powerpoints que passaram a estar acessíveis online, passamos a olhar de frente evidências como estas:

  • quando falamos de pobreza, referimo-nos a quem - segundo os dados do Eurostat - se situa abaixo de um limiar de pobreza definido como sendo 60% do rendimento mediano

  • em Portugal, isto significa:
    • Para 1 pessoa só (4 386 euros anuais ou 365,5 euros mensais)

    • Para 2 adultos e 2 menores de 14 anos (9 212 euros anuais ou 767,7 euros mensais)

  • ao confrontarmos este valor com a União Europeia, tornam-se evidentes as discrepâncias, já que os valores médios europeus são praticamente o dobro:
    • Para 1 pessoa só (8 368 euros anuais ou 697,3 euros mensais)

    • Para 2 adultos e 2 menores de 14 anos (17 573 euros anuais ou 1464,4 euros mensais)

  • Portugal é o segundo país da Europa (a seguir à Lituânia) com maior desigualdade entre ricos e pobres

Aceder ao powerpoint com estes dados (intitulado "Números que fazem pensar") aqui.

Mas há mais!

Como se não fosse suficiente sobreviver numa situação de pobreza, os pobres têm ainda de conviver com preconceitos que diariamente os confinam a um fatalismo altamente prejudicial.

De facto, o entendimento das causas da pobreza que têm os portugueses e os europeus em geral, é pré-cientifico e subjectivo:

«Os pobres são pobres porque:

  • Preguiçosos - "Não querem fazer nada"
  • Incompetentes - "Porque abandonaram a escola"
  • Dependentes - "E quem depende é quase sempre incompetente"
  • Responsáveis pela sua situação
  • Não credíveis - "O que torna prioritário o combate à fraude"
  • Perigosos - "Porque inevitavelmente reproduzem comportamentos associados"
  • Pertencentes a minorias »

Como podemos verificar a seguir, este entendimento é claramente não fundamentado:

  • «A maioria dos pobres trabalha, está desempregada ou já está reformada – só cerca de 27% é inactiva
  • Têm trabalhos pesados, longos e mal remunerados: múltiplos trabalhos, mal remunerados, impossibilidade de pouparem, impossibilidade de adquirirem mais competências para acederem a trabalhos mais bem remunerados,…
  • Das 126.621 famílias apoiadas pelo RSI (Rendimento Social de Inserção), só 44.780 não têm mais nenhum rendimento
  • 60 mil licenciados desempregados, dificilmente poderão ser considerados como incompetentes, bem como os milhares de trabalhadores que passaram por acções de formação profissional integradas no âmbito do RSI
  • 92% das acções de micro crédito são marcadas pelo sucesso, o que significa que os pobres são credíveis»

Ora, como sabe, "as etiquetas/rótulos eliminam as qualidades das pessoas, impedem-nas de demonstrar que não são incompetentes, forçam, muitas vezes, as pessoas a comportarem-se de acordo com essas mesmas etiquetas".

Aceder ao powerpoint com estes dados (intitulado "Aonde nos levam os preconceitos") aqui.

12 de novembro de 2008

Como decorreu a Audição

A Audição Pública "Dar voz aos pobres para erradicar a pobreza" correu muitíssimo bem, com uma sala cheia (e muita gente de pé!), testemunhos e participações muito interessantes e acolhidas com entusiasmo e muita vontade de mudança por toda a plateia.
No blog da audição já há dois artigos que descrevem um pouco da Audição e das conclusões que dela se tiraram.

Não deixem de consultá-las aqui.

Deixo um excerto:
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Audição pública «Dar voz aos pobres para erradicar a pobreza» juntou sociedade civil, políticos e igreja para reflexão conjunta sobre pobreza
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Teresa Mota Costa, 42 anos, vive em lutas burocráticas diárias com a Segurança Social. Desempregada, tem a seu cargo dois filhos. Um deles, o André de 15 anos, tem paralisia cerebral. Vive sempre no limite, pois não tem dinheiro suficiente para elevados encargos. Não tem créditos porque também não tem dinheiro.
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Marisa Correia e Ana Ribeiro, ambas sociólogas, trabalham na Rede Social de Loures, como funcionárias a recibos verdes. Não têm subsídio de Natal, de férias, de alimentação ou transportes. Não têm direito a seguros, subsídio de desemprego ou a indemnizações, sendo obrigadas a descontar do seu ordenado 20% para o IVA, a fazer 20% de retenção na fonte e a pagar, mensalmente, 150 euros à segurança social.
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Pedro Jorge Santos fala de uma pobreza diferente. Toxicodependente, foi marginalizado e sentiu-se sem auto estima durante muitos anos. Há cinco anos que trabalha junta da instituição que lhe deu voz e se interessou por ele, a Comunidade Vida e Paz. Mais do que a ajuda financeira aponta a importância dos afectos e da atenção, e foram esses sentimentos que lhe salvaram a vida.
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Domingas Augusto é guiniense, mãe de três filhos e responsável por um enteado. Alugava uma casa, e o seu companheiro tinha a responsabilidade de pagar 400 euros de renda mensal. Mas não o fazia. Com dívidas acomuladas, deixou-a. Foi despejada da sua casa e teve de resolver a sua vida e a dos filhos ao seu encargo.

Foram estes os pobres que, esta manhã, foram ouvidos na audição pública que decorreu este Sábado, numa organização da Comissão Nacional Justiça e Paz. Situações controladas, acompanhadas, vulgares, que de um momento para o outro, se descontrolaram. “Podia acontecer-me a mim", ouvia-se na plateia que encheu o Centro Cultural Franciscano, em Lisboa para ouvir os pobres.
“A pobreza é alvo de preconceitos circulares”, explicou Maria do Rosário Carneiro, vice presidente da CNJP aos presentes na audição. “os pobres são considerados preguiçosos, incompetentes, dependentes, responsáveis pela sua situação, não credíveis e perigosos”. Razões “não fundamentadas” para gerar preconceitos. “A maioria dos pobres trabalha, tem um emprego pesado, longo e mal pago. 60 mil licenciados estão desempregados”, indica.
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Manuela Silva pergunta, “será que quem promove os preconceitos consegue viver, de forma digna, com 370 euros por mês?”

6 de novembro de 2008

A secura

Hoje dou por mim a escrever isto a jovens de 16 anos
(o mundo até já lhes deu cabo da esperança):


In questo mondo colpevole, che solo compra e disprezza,
il più colpevole sono io, inaridito dall'amarezza.


P.P. Pasolini, A me.

2 de novembro de 2008

Excerto do excelente documentário: THE CORPORATION





Capítulo 11: Basic Training

«Marketing has transformed itself into a sophisticated, pervasive force that extends into every part of our lives. Slick advertising campaigns are designed for the express purpose of manipulating children into buying products and training them to become mindless consumers of goods they don't really want. The Nag factor, a marketing study that evaluated the effect of nagging, was designed to teach children how to nag more effectively. Consumers are made, not born.»

Nag (nag)
Transitive verb
nagged, nagging nag′·ging
To annoy by continual scolding, faultfinding, complaining, urging, etc. So, to "nag" is to go on and on and on about the same thing, hoping to convince someone to do something.

1 de novembro de 2008

"Dar voz aos pobres para erradicar a pobreza"


Aproxima-se a Audição Pública, organizada pela CNJP, "Dar voz aos pobres para erradicar a pobreza".

Numa iniciativa inédita, serão reunidas "na mesma mesa, as pessoas que vivem ou viveram situações de pobreza e os responsáveis pelas políticas públicas e pelas organizações de solidariedade social, investigadores, e gente da cultura e da comunicação social", convidados entre os quais:

José Vieira da Silva - (Ministro do Trabalho e da Solidariedade)
Dom Carlos Azevedo (Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social)
Jacinto Lucas Pires (escritor)
Henrique Pinto (teólogo, director da Revista Cais)
Ana Cardoso e Isabel Baptista (CESIS - Centro de Estudos para Intervenção Social)
Laborinho Lúcio (ex-ministro da Justiça)
Rogério Roque Amaro (ISCTE)
Alfredo Bruto da Costa (vice-presidente da CNJP e presidente do CES, Conselho Económico e Social )
Maria do Rosário Carneiro (vice-presidente da CNJP e actual deputada)

Dia 8 de Novembro, no Centro Cultural Franciscano (Largo da Luz).

Veja o programa completo aqui.
Consulte o blog da Audição aqui.