30 de junho de 2010

O absurdo da vida

é o meu marido fazer anos, eu ter uma vida nova a crescer dentro de mim, o sol brilhar sobre Lisboa, e um dos nossos melhores amigos, de 35 anos, ter morrido hoje de cancro na cabeça. Ninguém merece morrer com 35 anos e desta maneira. Sobretudo quando a sua vida foi dedicada a fazer os outros felizes e a embelezar uma cidade com música e com as boas vibrações do reggae.

A não perder também...



... este filme, que está aí a chegar aos cinemas.

Sin nombre



A não perder este filme, que retrata a realidade crua das maras latinoamericanas e das rotas de emigração na fronteira entre o 3º e o 1º mundos, que atravessam o México e países vizinhos. Vivi isto, indirectamente, através de "ladrões e assassinos" com quem travei uma amizade doce, ao pôr-do-sol de vários dias, em El Salvador. Um arrepio "revê-los" aqui.

22 de junho de 2010

Os peixinhos do mar

Um amigo de um amigo nosso, que tem uns filhotes pequenos que adoram esta música do Andrea, resolveu fazer um video para se divertir e diverti-los a eles. Foi uma agradável surpresa, esta manhã! Ficou giro, não acham?

19 de junho de 2010

O facilitismo e os futuros engenheiros e cientistas do nosso país

Verdadeiros atestados de estupidez.
Texto de Filipe Oliveira, Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, sobre a evolução da dificuldade dos exames nacionais de Matemática. No sítio do costume.

17 de junho de 2010

16 de junho de 2010

Sensações da minha última semana


(vitimismo a mais?)

15 de junho de 2010

Caritas in Veritate #34

A caridade na verdade coloca o homem perante a admirável experiência do dom. A gratuidade está presente na sua vida sob múltiplas formas, que frequentemente lhe passam despercebidas por causa duma visão meramente produtiva e utilitarista da existência. O ser humano está feito para o dom, que exprime e realiza a sua dimensão de transcendência. Por vezes o homem moderno convence-se, erroneamente, de que é o único autor de si mesmo, da sua vida e da sociedade. Trata-se de uma presunção, resultante do encerramento egoísta em si mesmo, que provém — se queremos exprimi-lo em termos de fé — do pecado das origens. Na sua sabedoria, a Igreja sempre propôs que se tivesse em conta o pecado original mesmo na interpretação dos fenómenos sociais e na construção da sociedade. «Ignorar que o homem tem uma natureza ferida, inclinada para o mal, dá lugar a graves erros no domínio da educação, da política, da acção social e dos costumes»*.
No elenco dos campos onde se manifestam os efeitos perniciosos do pecado, há muito tempo que se acrescentou também o da economia. Temos uma prova evidente disto mesmo nos dias que correm. Primeiro, a convicção de ser auto-suficiente e de conseguir eliminar o mal presente na história apenas com a própria acção induziu o homem a identificar a felicidade e a salvação com formas imanentes de bem-estar material e de acção social. Depois, a convicção da exigência de autonomia para a economia, que não deve aceitar «influências» de carácter moral, impeliu o homem a abusar dos instrumentos económicos até mesmo de forma destrutiva. Com o passar do tempo, estas convicções levaram a sistemas económicos, sociais e políticos que espezinharam a liberdade da pessoa e dos corpos sociais e, por isso mesmo, não foram capazes de assegurar a justiça que prometiam.
Deste modo, como afirmei na encíclica Spe salvi**, elimina-se da história a esperança cristã, a qual, ao invés, constitui um poderoso recurso social ao serviço do desenvolvimento humano integral, procurado na liberdade e na justiça. A esperança encoraja a razão e dá-lhe a força para orientar a vontade***. Já está presente na fé, pela qual aliás é suscitada. Dela se nutre a caridade na verdade e, ao mesmo tempo, manifesta-a. Sendo dom de Deus absolutamente gratuito, irrompe na nossa vida como algo não devido, que transcende qualquer norma de justiça. Por sua natureza, o dom ultrapassa o mérito; a sua regra é a excedência. Aquele precede-nos, na nossa própria alma, como sinal da presença de Deus em nós e das suas expectativas a nosso respeito.
A verdade, que é dom tal como a caridade, é maior do que nós, conforme ensina Santo Agostinho****Também a verdade acerca de nós mesmos, da nossa consciência pessoal é-nos primariamente «dada»; com efeito, em qualquer processo cognoscitivo, a verdade não é produzida por nós, mas sempre encontrada ou, melhor, recebida. Tal como o amor, ela «não nasce da inteligência e da vontade, mas de certa forma impõe-se ao ser humano»*****.
Enquanto dom recebido por todos, a caridade na verdade é uma força que constitui a comunidade, unifica os homens segundo modalidades que não conhecem barreiras nem confins. A comunidade dos homens pode ser constituída por nós mesmos; mas, com as nossas simples forças, nunca poderá ser uma comunidade plenamente fraterna nem alargada para além de qualquer fronteira, ou seja, não poderá tornar-se uma comunidade verdadeiramente universal: a unidade do género humano, uma comunhão fraterna para além de qualquer divisão, nasce da convocação da palavra de Deus-Amor.
Ao enfrentar esta questão decisiva, devemos especificar, por um lado, que a lógica do dom não exclui a justiça nem se justapõe a ela num segundo tempo e de fora; e, por outro, que o desenvolvimento económico, social e político precisa, se quiser ser autenticamente humano, de dar espaço ao princípio da gratuidade como expressão de fraternidade.



*Catecismo da Igreja Católica, 407; cf. João Paulo II, Carta enc. Centesimus annus (1 de Maio de 1991), 25: AAS 83 (1991), 822-824.
**Cf. n. 17: AAS 99 (2007), 1000.
***Cf. ibid., 23: o.c., 1004-1005.
****Santo Agostinho expõe, de maneira detalhada, este ensinamento no diálogo sobre o livre arbítrio (De libero arbitrio, II, 3, 8s.). Aponta para a existência de um «sentido interno» dentro da alma humana. Este sentido consiste num acto que se realiza fora das funções normais da razão, um acto não reflexo e quase instintivo, pelo qual a razão, ao dar-se conta da sua condição transitória e falível, admite acima de si mesma a existência de algo de eterno, absolutamente verdadeiro e certo. O nome, que Santo Agostinho dá a esta verdade interior, umas vezes é Deus (Confissões X, 24, 35; XII, 25, 35; De libero arbitrio, II, 3, 8, 27), outras e mais frequentemente é Cristo (De magistro 11, 38; Confissões VII, 18, 24; XI, 2, 4).
*****Bento XVI, Carta enc. Deus caritas est (25 de Dezembro de 2005), 3: AAS 98 (2006), 219.

11 de junho de 2010

10 de junho de 2010

5 de junho de 2010

Problemas de consciência


Ao princípio, lendo só o título, irritou-me como sendo uma estória de traição aos próprios princípios, mais um episódio dos habituais jogos de poder e de influências. A política que obriga a compromissos que a pervertem.
Mas ao ler o breve artigo (que é só uma antecipação da entrevista que sai amanhã na Pública), em que são citadas as palavras de Assunção Cristas, a dita deputada, fiquei a achar que esta afinal é uma estória que tem muito mais a ver comigo do que poderia parecer.


1. Trata-se de uma deputada que foi "recrutada" pelo Paulo Portas devido à sua acérrima argumentação contra o aborto.
(como a minha)

2. A respeito de ser contra o aborto e a favor do casamento gay, diz que são duas posições compatíveis dentro de si, embora aos olhos do mundo pareça que vêm ambas no mesmo pacote: «Eu seria favorável a um casamento [entre pessoas do mesmo sexo]. O que pode parecer uma posição estranha da minha parte. Muita gente me aborda achando que sou contra; mas não sou.»

(Como me acontece a mim, que sou constantemente assediada pelos movimentos em defesa da família e o caraças, desde que participei em certos eventos contra o aborto.)

3. A propósito da necessidade de votar na assembleia no contexto de um partido com disciplina de voto, eis como justifica a sua decisão, que passou por uma declaração de voto em que explicitava a sua opinião: «Curiosamente, desagradei a toda a gente. Os que concordavam comigo reclamaram, mesmo com a declaração de voto, por acharem que isso não servia de nada. E reclamaram comigo os que achavam que eu devia ser radicalmente contra e, no final, tinha feito uma declaração de voto; então, que tivesse sido contra! Fiz o que podia fazer, de acordo com a minha consciência. Dou muito valor ao contrato com o eleitorado. É mau dizer-se uma coisa e fazer-se outra. Todos cedemos um bocadinho para que fique espelhada a sensibilidade maioritária.»

(no lugar dela, acho que eu teria feito o mesmo e me teria encontrado exactamente na mesma situação de incompreensão por parte de toda a gente)

4. E eis como explica a sua posição relativamente ao casamento de pessoas do mesmo sexo: «Tenho amigos próximos que me fazem ver as coisas de outra maneira. Fazem-me perceber que são pessoas iguais a nós, com tanto desejo e expectativa de ter uma vida feliz como nós. O que digo aos meus amigos que não entendem esta minha posição é que há um caminho de felicidade que não pode ser fechado, sobretudo quando os valores dessas pessoas não comprimem os nossos. Não acho que isto seja um ataque à família ‘tradicional’.” »

(tal como eu.)

Enfim, até podíamos ser amigas.

Só que eu nunca poderia ser do PP e nunca aceitaria uma situação em que o meu voto traísse as minhas convicções mais profundas, por mais democrática que eu seja. Por isso, adeus Assunção Cristas, respeito-te e acho que és uma pessoa séria e que faz bem o seu trabalho. Mas ainda bem que não é o meu.

Estou em estado de choque

«Quem reprovar no 8.º ano e fizer 15 anos até Agosto, pode tentar despachar o 3.º ciclo ainda este Verão, autopropondo-se aos exames nacionais de Língua Portuguesa e Matemática do 9.º ano e às provas de frequência das outras disciplinas realizadas a nível de escola; quem já começou o 8.º ano com 15 ou mais anos também se pode candidatar a concluir o 3.º ciclo do mesmo modo, mas para o fazer já teve que anular a matrícula no princípio do 3.º período, ou seja, já não está na escola; já os alunos que transitarem de ano terão que prosseguir a escolaridade normal, fazendo o 9.º ano nas aulas e não por antecipação.»

Concordo totalmente com a opinião da Helena Damião, no De Rerum Natura: «Os alunos com SUCESSO têm de percorrer todos os anos do ensino básico, enquanto os que têm INsucesso podem saltar um ano.(...) Estamos perante uma lógica… ao contrário! E não há argumento que a possa justificar, porque ela é perfeitamente injustificável.»

Mais notícias aqui e aqui.

3 de junho de 2010

Prémio Camões 2010

Fico feliz de já ter tido a oportunidade de aqui dar a devida visibilidade a Ferreira Gullar com a sua Notícia da Morte de Alberto da Silva.

Aqui ficam agora mais dois poemas seus:



Despedida

Eu deixarei o mundo com fúria
Não importa o que aparentemente aconteça,
se docemente me retiro.
De fato
nesse momento
estarão de mim se arrebentando
raízes tão profundas
quanto estes céus brasileiros.
Num alarido de gente e ventania
olhos que amei
rostos amigos tardes e verões vividos
estarão gritando a meus ouvidos
para que eu fique
para que eu fique
Não chorarei.
Não há soluço maior que despedir-se da vida.


Alegria

O sofrimento não tem
nenhum valor
Não acende um halo
em volta de tua cabeça, não
ilumina trecho algum
de tua carne escura
(nem mesmo o que iluminaria
a lembrança ou a ilusão
de uma alegria).

Sofres tu, sofre
um cachorro ferido, um inseto
que o inseticida envenena.
Será maior a tua dor
que a daquele gato que viste
a espinha quebrada a pau
arrastando-se a berrar pela sarjeta
sem ao menos poder morrer?

A justiça é moral, a injustiça
não. A dor
te iguala a ratos e baratas
que também de dentro dos esgotos

espiam o sol
e no seu corpo nojento
de entre fezes
querem estar contentes.