21 de novembro de 2006

Muchos más que dos

Tus manos son mi caricia
Mis acordes cotidianos
Te quiero porque tus manos
Trabajan por la justicia.

Si te quiero es porque sos
Mi amor mi cómplice y todo
Y en la calle codo a codo
Somos muchos más que dos.

Tus ojos son mi conjuro
Contra la mala jornada
Te quiero por tu mirada
Que mira y siembra futuro

Tu boca que es tuya y mía
Tu boca no se equivoca
Te quiero porque tu boca
Sabe gritar rebeldía.

Si te quiero es porque sos
Mi amor mi cómplice y todo
Y en la calle codo a codo
Somos mucho más que dos.

Y por tu rostro sincero
Y tu paso vagabundo
Y tu llanto por el mundo
Porque sos pueblo te quiero.

Y porque amor no es aureola
Ni cándida moraleja
Y porque somos pareja
Que sabe que no está sola.

Te quiero en mi paraíso
Es decir que en mi país
La gente viva feliz
Aunque no tenga permiso.

Si te quiero es porque sos
Mi amor mi cómplice y todo
Y en la calle codo a codo
Somos mucho más que dos.

Mario Benedetti

18 de novembro de 2006

O meu filme preferido

e isto.

Como de costumbre
estuvimos de acuerdo en que poco o nada se arregla
con canciones (...)

Por fin resolvimos que
de todos modos
es peor el silencio
que hablar es algo más que una droga

Porque la verdad es verdad
sólo cuando es pronunciada
(...)

(Mario Trejo)
e isto.


Castigo para los que no practícan su pureza con ferocidad.
(Mario Trejo)

De puño y letra

O meu marido hoje mostrou-me isto.

Me doy por vencido.
La religión la mafia
la política y el fútbol
el ejército y la moda
mueven más gente que yo.

Son millones o pocos
pero totalmente decididos
al todo por el todo.
Yo sólo tengo que ver
con las pequeñas multitudes
de un cine de trasnoche
con la soledad de los jugadores
que ofician una partida de ajedrez
con la tibieza de algunas mujeres.

Leo
vuelvo a ver una vieja película
hago noche en Coltrane
y estiro el brazo y acaricio a mi bella
que fuma y ahora me convida.
(Mario Trejo)

L'America

(di Giorgio Gaber - versione del 1995)


Just singing in the rain (cit.)

A noi ci hanno insegnato tutto gli americani. Se non c'erano gli americani a quest'ora noi... eravamo europei: vecchi, pesanti, sempre pensierosi, con gli abiti grigi e i taxi ancora neri.
Non c'è popolo che sia pieno di spunti nuovi come gli americani. E generosi, e buoni, e giusti.
Non c'è popolo più giusto degli americani. Anche se sono costretti a fare una guerra, per cause di forza maggiore, s'intende, non la fanno mica perché conviene a loro. No! E' perché ci sono dei posti dove non c'è ancora né giustizia, né libertà. E loro... Eccola lì... Pum! Te la portano. Sono portatori, gli americani. Sono portatori sani di democrazia. Nel senso che a loro non fa male, però te l'attaccano.
L'America è un arsenale di democrazia. E quello che mi ha sempre colpito degli americani è questo gran desiderio, questo gran bisogno di esportare, di divulgare il loro modo di vivere, la loro cultura... no, non la cultura... le invenzioni, i fatti di costume... Sono portatori sani di cose nuove, sempre nel senso che a loro non fanno male però te le attaccano.
Dopo la seconda guerra mondiale sono arrivati qui e hanno portato: jeep, scatolette, jeans, cultura... no, non la cultura... movimenti dinoccolati, allegria, progresso, cultura... no, non la cultura... la Coca-Cola, il benessere, la tecnologia, lo sviluppo...
E di colpo l'Europa, la vecchia, cara Europa, con i suoi lampioncini fiochi, i suoi fiumi, le sue tradizioni, i violini, i valzer...

In the mood (cit)

E poi luci, e neon, e vita, e colori, e automobili, ponti, autostrade, televisori, aerei... Chewing-gum!

Tutti-frutti (cit.)

L'America è un paese di giovanotti. Gli americani sono gli unici al mondo che a Disneyland non si sentono idioti neanche per un attimo. No, io non ho niente contro l'America, anzi, mi piace. Ce l'ho con gli americanisti di tutto il mondo. L'America, si sa, è stato un errore dì navigazione. Certo, non ci volevamo mica andare, ci siamo cascati. Ecco cos'è l'America: è uno scivolo, una buca, un'enorme buca con il risucchio: SSSCCHHIVVRRUMMM!

(...) E ora tutti a dire: "Che bella la buca... che bella la buca... non c'è niente di più democratico della buca... a me piace la buca di Reagan... no, io sono per quella di Clinton... Eh già, perché c'è buca e buca... Viva la buca!"

(ler todo o texto de G.Gaber)

16 de novembro de 2006

Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya

Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim,
amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente à secular justiça,
para que os liquidasse "com suma piedade e sem efusão de sangue.

"Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,
ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de urna classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente,
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadela de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
a caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de té-la.
É isto o que mais importa - essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez
alguéme stá menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -
não hão-de ser em vão. Confesso que
muitas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam "amanhã".
E, por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor
que outros não amaram porque lho roubaram.


Jorge de Sena

6 de novembro de 2006

O Decrescimento Feliz

“Bom dia”, disse o principezinho.
“Bom dia”, disse o comerciante.
Era um comerciante de pílulas aperfeiçoadas para acalmar a sede.
Engolindo uma por semana, já não se tem necessidade de beber.
“Por que vendes tu isso?”, perguntou o principezinho.
“ É uma grande economia de tempo. Os cálculos foram feitos por peritos. Poupam-se cinquenta e três minutos por semana.”
“E o que se faz desses cinquenta e três minutos?”
“Faz-se o que se quer…”
“Eu – disse o principezinho para consigo -,
se tivesse cinquenta e três minutos para gastar,
o que fazia era dirigir-me devagarinho para uma fonte…”


(...)
O facto é que o crescimento entranhou-se na economia, como a alma no nosso pobre corpo mortal e já não é possível separá-los. Aos estudantes de economia ensinam (…) que as contas só batem certo se tiverem um “mais” (+) à frente. E não vale a pena tentar convencê-los de que a produção não pode crescer infinitamente porque os recursos do planeta não são infinitos (...). Uma economia que não cresce é considerada como um peixe que não nada. Uma contradição nos termos.

Mas em que é que consiste este crescimento? É o crescimento dos bens e dos serviços de que os seres humanos necessitam para viver cada vez melhor? Se vais daqui até ali de automóvel e não encontras trânsito na estrada consomes uma certa quantidade de combustível. Se ficares preso numa fila quilométrica, consomes muito mais. Portanto, fazes crescer muito mais o produto interno bruto. Portanto, estás melhor. E então porque é que te zangas? Pensa que me farás estar melhor também a mim, e nem me conheces, tal como 57 milhões e tal de italianos (10 milhões de portugueses). Ao pensar na tua generosidade até me comovo, enquanto sofro como um louco e, admito-o com vergonha porque sou mesmo um ingrato, faço-te sofrer também a ti, que não conheço, tal como 57 milhões e tal de italianos (10 milhões de portugueses), ao longo desde caminho de terra na montanha onde não faço crescer o produto interno bruto porque não consumo nada – a não ser um bocado da sola das minhas botas. Mas comprei-as há 10 anos e ainda estão boas. Claro que ao longo destes 10 anos fizeram-se novos modelos de botas, mudaram-lhes as cores, passaram as tiras de velcro um bocadinho mais para cima, depois um bocadinho mais para baixo, depois um bocadinho mais para o lado, depois fizeram-nas mais apertadas, depois mais largas, mas este ano, vi-as ontem na montra, estão novamente iguais às fitas das minhas botas. E meteram-nas no mesmo sítio. Até a cor é igual. Parece que acabei de as comprar.

Estou quase a chegar ao cimo da serra. Vou andando devagar, com passadas regulares. Para não me lamentar da minha desgraça e não me sentir demasiado em culpa para contigo, não te vou dizer nada acerca da paisagem e do ar que respiro. Tanto a paisagem como o ar são de graça, e nem ao olhar nem ao cheirar eu consumo alguma coisa. Nem posso imaginar o quanto tu estarás contente ao consumir gasolina, travões, embraiagem e pneus, metido no meio das chapas de aço e do escape dos carros! E como me estás a fazer feliz a mim! Só te falta acender um cigarro e beber um golo de coca-cola para atingir – e me fazeres atingir – um nível de felicidade ainda maior. Eu, pelo contrário, estou só a encher o meu cantil com a água de uma fonte. (...)
in Maurizio Pallante, La Decrescita Felice
.
.
(leitura integral do excerto: aproveitem e leiam mesmo, porque o texto é genial!)

Segunda carta do México

Um artigo bem escrito para enquadrar a situação de Oaxaca, cidade mexicana assediada desde dia 28 de Outubro, por parte da Polícia Federal Preventiva, de grupos paramilitares e polícias à paisana que têm atacado violentamente o movimento popular. O balanço desta semana de confrontos é terrível: 6 mortos, centenas de feridos, muitos dos quais em estado grave, mais de 80 presos, muitos quais sob tortura, e muitos dos quais, também, ilegalmente transportados para prisões militares; contam-se também mais de 30 pessoas desaparecidas.



OAXACA BRUCIA
"Non possono cacciarci dalla nostra città(di Claudio Albertani)

2 de novembro de 2006

Carta do México

Siamo a Chihuahua, nord el Messico.
(...) Gli ultimi giorni sono stati emozionalmente molto intensi, troppe esperienze forti concentrate in poco tempo, e un dolore immenso per quello che sta succedendo a Oaxaca.
E' difficile raccontare tutto ciò; è difficile soprattutto perchè la rabbia per tutte le ingiustizie ascoltate e viste in questi giorni si somma alla rabbia per l'ennesima ondata di repressione, per le morti impuni di giovani, maestri, bambini per mano di governi e milizie che continuano invariabilmente a difendere sempre e solo gli interessi di pochi schiacciando sogni, speranze e bisogni della gente comune, di quella moltitudine sfruttata, bistrattata e oppressa che poi costituisce la grande maggioranza del popolo.
(...)Di fronte alla barbarie del potere, operata per mano dell'esercito e della polizia, sono i contadini, gli operai, la gente comune, le comunitá indigene a illuminare il cammino, a indicarci la strada che dobbiamo percorrere per affrontare questo immenso mostro che è il sistema capitalista.

(ler todo o artigo de Roberto Tommasi - grande amigo)