21 de julho de 2010

Desabafo sobre a ingratidão de ter razão

Ando a descobrir que isto de se achar que se tem razão no meio de doidos, é de uma solidão tremenda. Estou farta de não ser capaz de dançar ao som da música. Quer dizer, não o quero fazer, não quero ser capaz de o fazer e desprezo quem não tem espinha dorsal que se digne para caminhar segundo as suas próprias convicções e balança ao som de opções de comodidade. Mas, ao mesmo tempo, sofro profundamente ao procurar a coerência e ao me sentir realmente, visceralmente, solitária em certos ambientes, acompanhada só pela minha própria irritação (ou até escândalo) perante certas decisões ou acontecimentos. Toda a estatística me diz que devo estar errada, que não é possível que fulano A, sicrano B e beltrano C estejam todos errados e que só eu, idiota e convencida, seja o único soldado na fila com o passo certo. Sim, é absurdo, mas sinto com a clareza de uma evidência cartesiana que é mesmo assim, que eles é que estão errados e que, como uma amiga hoje providencialmente me disse, isto da democraticidades das opiniões é uma grande treta. E uma treta perigosa.
A maioria nem sempre tem razão. Aliás, provavelmente poucas vezes a tem.
E as instituições perdem tanto mais a noção disso quanto mais por si passam os anos.


(enfim, o que me vale é o Amor)

2 comentários:

  1. Pois é.

    Eu todos os anos faço uma brincadeira com os meus alunos. Pergunto-lhes se a resposta correcta para uma dada questão é a A ou a B. Eles respondem que é a A (que está errada, mas sei que ano após ano todos os alunos caem no mesmo erro).
    Depois digo-lhes algo como:
    "Estão a ver meus amigos, por isto é que uma sala de aula não pode ser uma democracia. Se fosse, votávamos. E a resposta A passaria a correcta. Ora acontece que só uma minoria (eu) é que sabe realmente o disparate que essa resposta é. E quando estiverem cercados por uma larga maioria de pessoas que partilha da vossa opinião, não pensem que isso prova de alguma forma que a vossa opinião é a correcta.Uma demonstração não é uma soma de convicções."

    Bon courage,
    FO

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  2. Obrigadíssima. Que partilha boa, a sua! Gostei muito deste exemplo.

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