Quando eu era miúda e vivia em Oeiras, ir a Lisboa era uma aventura rara. E quando essa aventura incluía o Rossio, invariavalmente aparecia o homem-monstro que povoava a minha imaginação. Estava sempre do lado esquerdo da praça (para quem vem do rio), a pedir esmola, com o seu BI na mão, para confirmar que aquele tumor gigante e roxo que lhe cobria a face não era uma máscara: era mesmo a única cara que ele tinha para se apresentar ao mundo.
Tantas vezes sonhei com ele e pensei na sua identidade de homem-elefante português, na família que teria ou não, e com que comunicava vá-se lá saber como (será que ele consegue falar? certamente que não. E ouvir? talvez. Mas depois como é que responde, se não se vislumbram olhos no meio daquela massa disforme que lhe cobre o rosto? ou seja, como é que pode até escrever uma mensagem?).
Tantas vezes sonhei com ele e pensei na sua identidade de homem-elefante português, na família que teria ou não, e com que comunicava vá-se lá saber como (será que ele consegue falar? certamente que não. E ouvir? talvez. Mas depois como é que responde, se não se vislumbram olhos no meio daquela massa disforme que lhe cobre o rosto? ou seja, como é que pode até escrever uma mensagem?).
Passados uns anos, deixei de o ver e achei que tinha morrido.
Hoje fiquei a saber pelo jornal que o seu nome é José e foi operado nos Estados Unidos.
Hoje fiquei a saber pelo jornal que o seu nome é José e foi operado nos Estados Unidos.
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