8 de agosto de 2010

A escola, a exigência e a criatividade

A semana passada aconteceu-me uma coisa inédita: senti que, por uma questão de sobrevivência, tenho de deixar de falar da educação. O estado do sistema educativo em Portugal está de tal forma em queda livre e funciona tão em contradição com tudo aquilo que acredito serem valores estruturantes da sociedade (o mérito, a justiça, a excelência, a exigência, a honestidade), que fico literalmente a rebentar de dores de cabeça só de ouvir outras pessoas a discuti-lo. Na praia. A sério. Aconteceu-me isto, mal a conversa rebentou, a propósito das novas ideias brilhantes da ministra e da experiência no ensino universitário de alguns dos intervenientes (que eram um dos meus irmãos, a minha cunhada e uns amigos), na praia, com sol e bolas de berlim, num ambiente crítico, mas descontraído. E simplesmente não consegui ficar ali, depois de intervir uma ou duas vezes, e apesar de concordar com tudo o que era dito. Tive de me afastar e tentar ler uma treta qualquer da Agatha Christie para descontrair, mas não consegui. Fiquei com dores de cabeça o resto da tarde e da noite, que só me passaram no dia seguinte.

Decidi que não volto a falar sobre isto, pelo menos enquanto não tiver algum poder de decisão nesta matéria, a nível macro ou micro que seja.

Neste momento, o que se faz e o que se advoga é de tal forma absurdo, que me sinto como alguém que fosse feminista no contexto da escravatura no século XVI. Estamos a anos luz (e a afastar-nos cada vez mais) daquilo que me parece ser a mais elementar sensatez. E eu sou uma formiga neste contexto. Tudo o que eu possa dizer ressoa só na minha cabeça, sem ser sequer audível por quem conduz este combóio.

E por isso coloco aqui este vídeo. Porque aborda o tema de uma perspectiva radicalmente diferente, focando-o de outro ângulo, pondo em causa estruturas que eu não ponho e que não são o meu "alvo", e por isso mesmo acho-lhe piada.

Eu gosto da escola de tipo académico e teórico que este senhor critica, só que não a defendo para todos, nem por imposição. Acredito na liberdade de educação e na possibilidade de escolha para pais e alunos. Deveria haver imensos caminhos possíveis, a nível escolar, adequados à diversidade de talentos e potencialidades das crianças. Com a condição, depois, de sermos sérios e consequentes no percurso escolhido: jogar de acordo com as regras e assumindo as consequências da falta de trabalho, seja qual for o caminho empreendido. O que implica uma meritocracia e uma exigência que cada vez mais são esmagadas em Portugal.


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