Na prática, o que acontece é que se passa o dia inteiro no carro ou no escritório, usa-se o elevador e qualquer outra maquinaria de pequena ou grande dimensão que nos impeça de fazer o mínimo esforço muscular.
E depois, normalmente num horário pós-laboral, vai-se para o ginário-piscina-massagens-solárium, para o "fitness" e para a gente se sentir em forma. Entra-se no ginásio, ou seja, um "transpirificador", onde o objectivo é a gente mexer-se só por mexer, sem razão aparente e sem que isso sirva para nada.
Acho que um dos sinais da decadência da nossa civilização é a bicicleta sintética, evolução da velha bicicleta normal, em que uma pessoa finge que está a pedalar pelos caminhos do Gerês enquanto vê uma cassette de vídeo.
E que tal a passadeira rolante, aparelho tecnológico em que um indivíduo pode correr sem ter de sair do mesmo lugar, e com a vantagem de não ter de sentir o cheiro das árvores de um parque ou ver um pôr-do-sol indescritível, mas sem deixar de poder partilhar o próprio suor com o da pessoa que finge correr ao seu lado?
Last but not the least, os "simuladores de subir escadas" (chamam-se mesmo assim), mais uma maquineta diabólica com que uma pessoa finge estar a subir as escadas (embora diga palavrões e maldiga a administração do condomínio sempre que o elevador se estraga e se vê obrigado a subir as escadas a sério...) .
Quando eu era pequeno e ia a casa da minha avó, passava sempre por uma loja de animais. Muitas vezes, na montra, havia uma pequena gaiola com um hamster, e todo o hamster que se preze tem de ter uma roda na gaiola, para poder passar o dia a correr, correr, correr, correr, correr e ficar sempre no mesmo lugar. Nunca considerei o hamster um animal muito inteligente, precisamente por causa desta sua mania de correr naquela espécie de misturador moulinex.
Trinta anos depois, o nosso cérebro tornou-se semelhante ao cérebro de um hamster.»
(Patrizio, Bilanci di Giustizia)
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