1 de maio de 2006

Os amantes da guerra

por John Pilger


Os amantes da guerra que conheci em guerras reais eram geralmente inofensivos, excepto para si próprios. Eles eram atraídos para o Vietnam e o Cambodja, onde as drogas eram abundantes. A Bósnia, com a sua roleta da morte, era outro favorito. Uns poucos diriam que estavam ali "para perceber o mundo", os honestos diriam que amavam a guerra. Um deles havia tatuado no braço: "A guerra é divertida!". Postou-se sobre uma mina terrestre.

Por vezes recordo estes tolos quase benquistos quando me deparo com outra espécie de amante da guerra — a espécie daqueles que nunca viram guerra e muitas vezes fizeram todo o possível para não vê-la. A paixão destes amantes da guerra é um fenómeno; ela nunca esmorece, apesar da distância do objecto do seu desejo. Apanhe os jornais de domingo e ali estão eles, egocêntricos com escassa experiência rude, a não ser um sábado em Sainsbury's. Ligue a televisão e ali estão eles outra vez, noite após noite, entoando não tanto seu amor à guerra como seus esforços de vendas por conta de quem os designou. "Não há dúvida", disse Matt Frei, o homem da BBC na América, "de que o desejo de fazer o bem, de levar os valores americanos ao resto do mundo, e especialmente agora ao Médio Oriente ... está agora cada vez mais ligado ao poder militar".

Frei disse isso em 13 de Abril de 2003, depois de George W. Bush ter lançado "Choque e pavor" sobre um Iraque indefeso. Dois anos depois, após um exército de ocupação desenfreado, racista, lamentavelmente treinado e mal disciplinado ter levado "valores americanos" de sectarismo, esquadrões da morte, ataques químicos, ataques com munições revestidas de urânio e bombas de fragmentação, Frei descreveu a notória 82ª Aerotransportada (Airborne) como "os heróis de Tikrit".

No ano passado ele louvou Paul Wolfowitz, arquitecto da carnificina no Iraque, como "um intelectual" que "acredita apaixonadamente no poder da democracia e no desenvolvimento a partir das bases". Tal como em relação ao Irão, Frei estava bem à frente da história. Em Junho de 2003 ele disse aos espectadores da BBC: "Aqui pode estar um caso para mudança de regime também no Irão".

Quantos homens, mulheres e crianças serão mortos, mutilados ou enlouquecidos se Bush atacar o Irão? A perspectiva de um ataque é especialmente excitante para estes amantes da guerra, sem dúvida desapontados com a evolução dos acontecimentos no Iraque.
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Em 2000, o Tribunal Internacional de Crimes de Guerra anunciou que a contagem final de corpos descobertos nas "sepulturas em massa" do Kosovo era de 2788. Isto incluiu sérvios, ciganos e aqueles mortos pelos "nossos" aliados, a Frente de Libertação do Kosovo. Isto significou que a justificação para o ataque à Sérvia ("225 mil homens de etnia albanesa com idades entre 14 e 59 estão desaparecidos, presumivelmente mortos", afirmou o embaixador itinerante americano David Scheffer) era uma invenção. Que eu saiba, apenas o Wall Street Journal admitiu isto.
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Para mim, uma das mais odiosas características de Blair, e Bush, e Clinton, e da sua ávida e burlona corte jornalística, é o entusiasmo de homens (e mulheres) degenerados por derramamentos de sangue que nunca vêm, por corpos estraçalhados que não lhes provocam ânsias de vómito, por morgues amontoadas que eles nunca terão de visitar, à procura de um ser amado. O seu papel é impingir mundos paralelos de verdades não ditas e mentiras públicas. Que Milosevic era um peixe miúdo comparado com assassinos em escala industrial como Bush e Blair cabe na primeira categoria.

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