17 de outubro de 2009

Sou contra

Recebi várias mensagens no meu mail:
«Não deixemos passar a oportunidade de fazer a diferença!
Nós damos-te um evento para participares! Vamos fazer a maior concentração de pessoas em Lisboa num dia cheio de actividades!»

É o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza e as pessoas querem é marcar recordes do Guiness. Querem é um "evento para participar".

Não gosto nada do Levanta-te!, tenho a dizer.

Das 93000 pessoas que se "levantaram" no ano passado, quantas é que alguma vez fizeram seja o que for pela luta contra a pobreza e a fome? Quantas delas é que estariam dispostas a partilhar o que têm, a sair dos seus preconceitos e comodidades, a trocar o relógio, o telemóvel ou o Ipod por um pedaço de pão para o sem-abrigo que dorme na sua própria cidade, ou quanto mais pelo "pobrezinho" de África?

Quantas aceitariam trocar o nosso sistema económico por outro, que lhes retirasse alguns privilégios para fosse mais equitativo e inclusivo?

Na minha escola, há anos que é assim: é o dia do "Levanta-te", lê-se o manifesto aos alunos logo de manhã, eles levantam-se, voltam a sentar-se, começa-se a aula. E no fim do dia entregamos o número total de alunos da escola à entitade organizadora. Contribuimos para o Guiness.
Levantámos-nos e pronto. Já fizemos a nossa parte.
Ninguém nos pede para pensar em reais soluções para o problema.

"Fazer a diferença"? Poupem-me.

E depois de eu refilar, não me digam que um evento assim "é melhor do que nada". PORQUE NÃO É! Isto é como ensinar mal, como fazer uma obra mal feita. Depois será preciso desmanchar, tapar os buracos, reforçar as paredes. Eu acho, sinceramente, que isto é pior do que não fazer nada, porque transmite uma ideia de solidariedade fast-food, uma ideia tão apetitosa que só com muita experiência de vida se poderá desconstruir.

É como o slogan do Rock in Rio: Por um mundo melhor.
Que irritante!

Será que quem organiza isto acha mesmo que é assim que se muda o mundo?


P.S. Ainda bem que hoje é sábado e o Levanta-te não passará pela minha escola.

2 comentários:

  1. Faço como anónimo o comentário mas presumo que saiba quem o faz.

    E que tal arriscar e sair? É como o gajo de Alfama ou o outro que fala e não diz nada... Apenas constatar o facto de concordar com a sua apoquentação.

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  2. Não me deste muitos elementos para te identificar...

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