29 de março de 2009



Diego no conocía la mar. El padre, Santiago Kovadloff, lo llevó a descubrirla.
Viajaron al sur.
Ella, la mar, estaba más allá de los altos médanos, esperando.
Cuando el niño y su padre alcanzaron por fin aquellas cumbres de arena, después de mucho caminar, la mar estalló ante sus ojos. Y fue tanta la inmensidad de la mar, y tanto su fulgor, que el niño quedó mudo de hermosura.
Y cuando por fin consiguió hablar, temblando, tartamudeando, pidió a su padre:
¡Ayúdame a mirar!


Eduardo Galeano
"El Libro de los abrazos"

28 de março de 2009

A arte de, com pinta, recuperar uma música que estava relegada no baú do romantismo meloso....



27 de março de 2009

excerto dos meus 19 anos


«(...)Não tenho, e não tem ninguém, parece-me, o direito de viver no esquecimento dos outros e de tudo o que tem possibilidade de fazer por eles, se quiser.

As minhas capacidades, todo o meu potencial, são o meu limite e o meu dever – a fronteira da minha acção não deve estar na vontade.

O pôr os meus talentos ao serviço dos outros é minha mais básica obrigação e o sentido mais verdadeiro da minha vida. (…)

Serei fraca e indigna de tudo quanto tenho se não viver neste sentido, se não usar a minha vida para dar vida, a minha fé para espalhar a fé, os meus talentos para dar alento, os meus bens para matar a fome. Se me esquecer, se me esquivar, se desistir, terei ignorado a intuição mais clara que jamais experienciei, terei dito ‘não’ à voz de Deus que me falou. Terei falhado a minha vida.

Tudo me foi dado, tenho de viver de forma a merecer esse tudo. Nenhuma outra atitude, nenhuma outra postura faz sentido senão essa.

Terei de compreender, e ajudar a compreender aos favorecidos habitantes do mundo desenvolvido que a vida é o nosso dom comum, sendo a terra a extensão da nossa comunidade. Que por isso mesmo não pode ser concebível uma existência alienada dos problemas da nossa comunidade. (…) Como caminhar descansados sem sentir o peso desta dívida?

(…) Não posso nunca esquecer que há um laço inquebrantável que une a todas as pessoas, na sua individualidade, na sua diferença, na sua comum dignidade.(...)»

Joana Abreu

16 de Abril de 1999

Cair na real

Numa discussão entre cinco amigos, jovens universitários, meus ex-alunos, num domingo com sol no campo,
só um deles é que defendeu que é possível lutar contra o sistema que nos obriga a trabalhar como escravos, que é possível encontrar alternativas, que ninguém tem de aceitar à priori que vai ter horários da 8 às 8, sem tempo para mais nada.
Os outros quatro disseram: "Ilusões! O mundo real não é assim! Tu vais ver!"

E eu pergunto-me, depois de 3 anos com eles a batalhar por desconstruir ideias feitas, esquemas e cadeias, por abri-los às possibilidades reais que nos dá a vida: o que é que ficou?

19 de março de 2009

Homenagem ao coveiro




em quem dos calos cépticos

se libertam milagres


18 de março de 2009

Amadeu

Hoje morreu um homem que, em plena derrota na luta contra o cancro, com o corpo apodrecido por dentro e já quase sem forças até para se aguentar de pé, dizia, sorrindo, quando lhe perguntavam como estava:
Estou como Deus quer! E por isso, não podia estar melhor!
Um homem que, perante uma plateia de amigos e amigas que há já muitos meses rezavam por ele, pouco antes de admitir que os tratamentos de quimioterapia e radioterapia não andavam a surtir efeito, disse:
Quero antes de mais agradecer as vossas orações, que têm tido um resultado extraordinário.... É que ando tããão bem-disposto, tão contente!.....
E que depois nos contou a experiência de estar uns tempos internado num hospital público de Lisboa e de agradecer diariamente a Deus por essa "graça", pois pôde comprovar o heroismo dos médicos e enfermeiras que, em número manifestamente insuficiente para a quantidade de pacientes, têm de se desdobrar, sem conseguir dar conta do recado. E acrescentava então a enorme alegria que teve de poder viver pessoalmente esta experiência, partilhar com as outras pessoas a dor e a frustração perante os cuidados sub-humanos a que um contribuinte por vezes está sujeito, e agradeceu mais uma vez a graça de ter podido conhecer essa realidade antes de morrer.
Um homem desconcertante, porque, como mais nenhum outro que eu até agora tenha conhecido, viveu profunda e genuinamente o Princípio e Fundamento dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio:

O homem é criado para louvar,
reverenciar e servir a Deus Nosso Senhor,
e assim salvar a sua alma.
E as outras coisas sobre a face da terra
são criadas para o homem,
para que o ajudem a alcançar o fim
para que é criado.
Donde se segue que há-de usar delas
tanto quanto
o ajudem a atingir o seu fim,
e há de privar-se delas
tanto quanto dele o afastem.
Pelo que é necessário tornar-nos indiferentes
a respeito de todas as coisas criadas
em tudo aquilo que depende da escolha
do nosso livre-arbítrio, e não lhe é proibido.
De tal maneira que, de nossa parte,
não queiramos mais saúde que doença,
riqueza que pobreza,
honra que desonra,
vida longa que breve,
e assim por diante em tudo o mais,
desejando e escolhendo apenas o que mais nos conduz
ao fim para que somos criados.

Acho que qualquer pessoa que subestime o desconcerto destas palavras, não as está a encarar seriamente. Não se dá conta sequer da revolução que podem operar numa vida.
E creio que quem não se sente vergar perante a santidade de quem põe isto em prática, não se deixou simplesmente tocar.
Quanto a mim, sinto que tenho uma vida inteira (realmente, preciso de décadas) para perceber um pouco de tudo isto, um mínimo que seja. Mas sou uma formiga que aspira a escalar uma montanha, é quase ridícula a pretensão desta tarefa.

14 de março de 2009

Onde é que este homem esteve até agora?

O Presidente Obama coloca crentes e não crentes face à necessidade de superar preconceitos e procurar princípios universais aceites e reconhecidos por todos.


13 de março de 2009

As cábulas

Hoje apanhei uma aluna a copiar.

Durante uns primeiros arrastados minutos, tive imenso pudor em me aproximar dela, em mostrar a intenção explícita de ver o que tinha no colo. O politicamente correcto actualmente diz-nos que, na dúvida, não se deve acusar ninguém, todos são inocentes até que se prove o contrário, e eu até concordo - ou concordava - com isto, até agora. Mas às tantas, já com mais medo de que, de facto, se confirmassem as minhas suspeitas do que de estar a ser injusta, aproximei-me. Pensei que, eventualmente, tivesse um velho papel-cábula do século passado, escrito a letras pequeninas como se fazia dantes. Mas encontrei um bruto telemóvel enterrado entre as pernas. Com um ecrã enorme e 6 mensagens enviadas com o enunciado de 6 perguntas do teste. E 6 respostas, longas, desenvolvidas, a essas 6 perguntas, mandadas por uma colega da turma ao lado. Que estava a ter aula. Que está sentada no meio da sala, a 2 metros do professor que, por mais atento que estivesse (e sei que o está), não se apercebeu de nada, enquanto ela mandava o teste inteirinho por telemóvel à outra.

Estou mesmo chocada. Para além do choque de me aperceber de quão fácil é isto acontecer e quão lerda tenho sido, veio o choque sociológico. Depois do teste anulado e dos adjacentes telefonemas para os pais, a miúda levou horas até mostrar arrependimento, e os colegas terminaram o teste sorridentes, a querer conversar comigo sobre várias coisas, sem se aperceberam da minha perturbação e impávidos perante um mundo em que é banal ser desonesto. Os alunos de outra turma a quem contei o episódio só me perguntavam, perplexos: isto nunca lhe tinha acontecido antes, stora?
Pois. Quantas e quantas vezes isto não terá já acontecido, quantas e quantas pessoas que lêem este blog não acharão ridículo eu escrever com tanto pathos e estupefacta indignação um post em que falo de um tão insignificante quão anedótico pecado da sua juventude.

Mas a verdade é que não me conformo, e acho que a banalidade deste mal é mais um dos sintomas da nossa pequenez moral como povo. Como é que um país se pode sustentar quando a todos parece a mais cómica das proezas fazer cábulas, cada vez mais inovadores, cada vez mais engenhosas? E todos perguntam - qual é o mal?!
E eu sinto-me um zarolho em terra de cegos, a insistir em não perceber como é que não se reconhece toda a desonestidade - antes de mais para connosco próprios - de sermos capazes de nos deixarmos avaliar pelo que não somos. E não consigo deixar de me sentir pessoalmente usada, gozada, humilhada pela necessidade e o descaramento de copiarem nos meus testes. E profundamente assustada com um Portugal-futuro (ou mundo-futuro que seja) em que as consciências deixam de funcionar tão cedo. É só sair da primária - ou do 2º ciclo, vá - e quem não copia (= engana = mente = corrompe) é banana. E o professor que se escandaliza é um extra-terrestre, está fora do mundo.
Os meios são justificados pelos fins nestas pequenas coisas. Na evidência de que a cábula é uma mentirinha inofensiva (e desculpabilizada pela sua normalidade) em comparação com a necessidade de uma positiva.
Como é que depois se espera que a sociedade não funcione segundo a mesma lógica nas coisas maiores? O fim de me safar no orçamento familiar justifica o meio de fugir aos impostos. O fim de dar uma educação decente aos putos justifica o meio de aldrabar as contas do patrão.
É óbvio! Como é que ninguém parece ver que estamos a perpetuar a justificação da desonestidade?

11 de março de 2009

Nem mais

A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres.
Agora dizemos que Sócrates não serve.
E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada.
Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates.
O problema está em nós. Nós como povo.
Nós como matéria prima de um país.
Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro.
Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais.
Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
Pertenço ao país onde as empresas privadas são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos ....e para eles mesmos. Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.

(...) Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.

(...) Esses defeitos, essa 'CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA' congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não noutra parte...

Fico triste.
Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos.
E não poderá fazer nada...

(...) Qual é a alternativa?
Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror?
(...) É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...

(...) Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer.

EDUARDO PRADO COELHO in Público

(artigo que anda a circular na net, para leitura integral aqui)

9 de março de 2009

Gaza

4 de março de 2009

Uma incrível história de sucesso: como recriar uma floresta tropical

Esta sexta, às 19h, estarei no Nós por Cá (programa da Sic).

E no dia 25 de Março, estarei no Colégio Amor de Deus, conforme o cartaz abaixo.

2 de março de 2009