Hoje morreu um homem que, em plena derrota na luta contra o cancro, com o corpo apodrecido por dentro e já quase sem forças até para se aguentar de pé, dizia, sorrindo, quando lhe perguntavam como estava:
Estou como Deus quer! E por isso, não podia estar melhor!
Um homem que, perante uma plateia de amigos e amigas que há já muitos meses rezavam por ele, pouco antes de admitir que os tratamentos de quimioterapia e radioterapia não andavam a surtir efeito, disse:
Quero antes de mais agradecer as vossas orações, que têm tido um resultado extraordinário.... É que ando tããão bem-disposto, tão contente!.....
E que depois nos contou a experiência de estar uns tempos internado num hospital público de Lisboa e de agradecer diariamente a Deus por essa "graça", pois pôde comprovar o heroismo dos médicos e enfermeiras que, em número manifestamente insuficiente para a quantidade de pacientes, têm de se desdobrar, sem conseguir dar conta do recado. E acrescentava então a enorme alegria que teve de poder viver pessoalmente esta experiência, partilhar com as outras pessoas a dor e a frustração perante os cuidados sub-humanos a que um contribuinte por vezes está sujeito, e agradeceu mais uma vez a graça de ter podido conhecer essa realidade antes de morrer.
Um homem desconcertante, porque, como mais nenhum outro que eu até agora tenha conhecido, viveu profunda e genuinamente o Princípio e Fundamento dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio:
O homem é criado para louvar,
reverenciar e servir a Deus Nosso Senhor,
e assim salvar a sua alma.
E as outras coisas sobre a face da terra
são criadas para o homem,
para que o ajudem a alcançar o fim
para que é criado.
para que é criado.
Donde se segue que há-de usar delas
tanto quanto
o ajudem a atingir o seu fim,
e há de privar-se delas
tanto quanto dele o afastem.
Pelo que é necessário tornar-nos indiferentes
a respeito de todas as coisas criadas
em tudo aquilo que depende da escolha
do nosso livre-arbítrio, e não lhe é proibido.
De tal maneira que, de nossa parte,
não queiramos mais saúde que doença,
riqueza que pobreza,
honra que desonra,
honra que desonra,
vida longa que breve,
e assim por diante em tudo o mais,
desejando e escolhendo apenas o que mais nos conduz
ao fim para que somos criados.
Acho que qualquer pessoa que subestime o desconcerto destas palavras, não as está a encarar seriamente. Não se dá conta sequer da revolução que podem operar numa vida.
E creio que quem não se sente vergar perante a santidade de quem põe isto em prática, não se deixou simplesmente tocar.
Quanto a mim, sinto que tenho uma vida inteira (realmente, preciso de décadas) para perceber um pouco de tudo isto, um mínimo que seja. Mas sou uma formiga que aspira a escalar uma montanha, é quase ridícula a pretensão desta tarefa.
Stora, gostei imenso do que escreveu! Ultimamente tenho ouvido dizer tantas coisas boas do Padre Amadeu que fico com pena de não ter falado com ele mais vezes. É sempre bom saber mais coisas e acho que nunca tinha lido o texto do Princípio e Fundamento a pensar que alguém pudesse aspirar a torná-lo real na vida prática. Para mim era muito mais teórico! Fiquei com vontade de o ler e reler e tentar abrir lugar para ele na minha vida. Ainda que com um intermediário, já aprendi mais uma lição do Padre Amadeu. Obrigada, professora! Fez-me mesmo bem ler o post!
ResponderEliminarUm beijinho, Leonor. (não sei se ainda se lembra de mim..)
Que bom, Leonor, obrigada!
ResponderEliminarClaro que me lembro de ti! Côxa, com duas muletas, teimosamente a caminho de Taizé!
Sei que tens um blog e que até lá puseste o link para meu (thanks!)
Continua a passar por aqui e a aceitar desafios!
Bjs