25 de abril de 2010

Querido aluno que estás há uma semana a preparar-te para festejar o 25 de Abril

Como explicar-te as decepções que tenho tido?

Como poder dizer-te que já não desço a avenida, sem arriscar queimar-te etapas que têm de ser percorridas - que deveriam ser percorridas por todos?

Gosto dos teus cartazes do MFA e tenho efectivamente aqui em casa aquele da Vieira da Silva que diz que a poesia está na rua. E acredito que esteve, e comovo-me a ver a alegria das pessoas naquele belíssimo documentário do Sérgio Tréfaut (que te aconselho: "Outro país"), ou as imagens do povo todo a descer a rua, aquelas célebres imagens que passam repetidamente nas reportagens.


Mas também é verdade que ontem no Largo do Carmo, onde passei por mero acaso, estavam as mesmas barraquinhas de todos os anos e os mesmo slogans e um homem a cantar "uma gaivota voava, voava" - e eu, querido aluno, já não suporto isto.

Como explicar-te que é retórica?

Que partilho contigo os ideais, mas estou farta de toda a conversa da esquerda, e dos vícios e da pequenez e da falta de meritocracia, e da repetição saudosista, e das palas nos olhos e do vitimismo e da demonização dos outros?

Não, é melhor não te dizer estas coisas.

Desce a avenida, sim, e até podes ir para a cidade universitária no primeiro de Maio. E, sobretudo, envolve-te, conhece o mundo do associativismo de esquerda por dentro. Faz isso tudo. E daqui a 10 anos falamos.

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