Os zapatistas
Boaventura Sousa Santos
Publicado na Visão em 7 de Julho de 2005
Publicado na Visão em 7 de Julho de 2005
Saio da cidade do México num momento em que a classe política e os movimentos e organizações sociais reflectem sobre a última declaração política do movimento zapatista, a Sexta Declaração da Selva Lacandona.
(...) Trata-se de um texto escrito num estilo desconcertantemente simples, dirigido à “gente simples e humilde” e em termos que esta entenda, pleno de ironia e carregado de imagens que apelam à experiência vivida das classes populares.
(...) Destaco nela três aspectos principais. O primeiro consiste na opção mais inequívoca do que nunca, pela acção política pacífica: “o que vamos fazer no México e no mundo, vamos fazê-lo sem armas, com um movimento civil e pacífico”. Está aberta, pois, a possibilidade de o movimento zapatista vir a integrar o Fórum Social Mundial (cuja carta de princípios exclui a luta armada) o que, em meu entender, seria bom para ambos.
(...) O segundo aspecto é que a intervenção zapatista não é feita contra a política, mas antes contra “esta política que não serve, e não serve porque não toma em conta o povo, não o escuta, não faz caso dele, só se aproxima dele quando há eleições e já nem sequer quer votos, pois bastam as sondagens para dizer quem ganha”. Contra uma democracia representativa de baixa intensidade, propõe-se uma democracia de alta intensidade, que combine a democracia representativa com a participativa, pressionando os partidos a partir “de baixo”, ou seja, através de uma forte mobilização social e política, uma campanha nacional para a construção de outra forma de fazer política”, de um programa de luta nacional e de esquerda que esteja para além dos processos eleitorais.
Esta mobilização deixa de se dirigir exclusivamente aos povos indígenas, a base social originária dos zapatistas, para incluir todos os explorados e excluídos: operários, camponeses, jovens, mulheres, deficientes, micro-empresários, reformados, homossexuais e lésbicas, crianças, emigrantes, etc. Trata-se, pois de organizar um vasto movimento social rebelde e pacífico.
O terceiro aspecto a salientar é que a luta social e acção política de base têm de ser, não apenas intersectoriais, mas também transnacionais. A globalização neoliberal, ao globalizar os processos de exclusão social, cria também as condições para organizar globalmente a solidariedade, solidariedade, antes de tudo, com os povos latino-americanos, mas também com todos os outros povos do mundo.
O terceiro aspecto a salientar é que a luta social e acção política de base têm de ser, não apenas intersectoriais, mas também transnacionais. A globalização neoliberal, ao globalizar os processos de exclusão social, cria também as condições para organizar globalmente a solidariedade, solidariedade, antes de tudo, com os povos latino-americanos, mas também com todos os outros povos do mundo.
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