15 de setembro de 2009

Cito o Mário Matos, amigo com quem nos cruzámos no Brasil, e esteve numa favela a trabalhar com um certo padre Vilson, extraordinário homem de Deus e dos mais pobres.

Conta-nos o Mário uma das suas primeiras experiências lá no morro:

Fez-me sinal com o dedo, aproximei-me e então contou-me: "Oh amigo! Com a chuva minha casa inundou ali no morro. Está tudo alagado, as roupa, os sapato, e eu também. Precisava de umas calça, uns sapato e um cobertor para essa noite. Então me disseram para vir falar com o Pade Vilso que ele me ajudava. Vocês não tem?" Tive de dar um sorriso para receber esta imagem que me chegava. Disse para entrar e esperar que a missa terminasse, no final o Pe Vilson falaria com ele de certeza, e o problema dele ficaria resolvido. Sentiu-se tocado e fez-me um sorriso emocionado, quase como se fosse chorar, pegou nos meus ombros e virou-me para a igreja. Perguntei se precisava de mais alguma coisa agora, disse que não. Voltei-me para a celebração.
Sentia um ardor no meu coração, apetecia-me sair dali naquele momento, ir buscar os ténis que tinha trazido a mais e calçá-lo. Apetecia-me ir buscar um cobertor e uma toalha, pegar nele e deixá-lo tomar banho ali em casa e depois ir ver a casa dele para perceber como ia passar aquela noite. Havia um calor dentro de mim, uma vontade, uma força. Fechei os olhos e pensei. "De facto isso não resolveria nada, iria dar hoje o banho, dar hoje as sapatilhas, dar hoje o cobertor, resolver hoje o problema da casa e amanhã estaria tudo na mesma. De facto, eu ficaria muito bem comigo se o fosse fazer. Mas não seria isso um acto de egoísmo? (...)"
Vem o abraço da paz, aquele do Pe Vilson que é tão simbólico e tão expressivo que abrange todos, todos, todos... Viro-me para trás e vejo dois olhos luminosos com um sorriso enorme a ver o que eu fazia. Abri os braços e dei a paz de Cristo, ele deu-me de volta e abraçou-me. Desapareceu o cheiro, desapareceu a diferença, éramos um naquele segundo onde nada estava, onde havia apenas amor. Sorri. O gesto continuou com os outros à nossa volta, mais 5 minutos de abraços, mais paz, mais amor. De vez em quando virava-me para trás para ver onde estava, por vezes não o via, mas percebi que se escondia atrás da parede, um pouco mais à frente. Respeitei o seu espaço.

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