26 de maio de 2008

Etty Hillesum

Judia convertida "sensualmente" ao poder de Deus, morta em Auschwitz. Ler artigo de Bénard da Costa aqui:
Deixo algumas pequenas citações para aguçar o apetite:


«Aprendi hoje algo de essencial. Quando achava bonita uma flor, o que eu mais desejava era apertá-la contra o peito ou comê-la. Era mais difícil com uma bonita paisagem, mas o sentimento era o mesmo. Eu era sensual demais, demasiado "possessiva". Tudo o que me parecia bonito queria-o de forma exageradamente física, queria possuí-lo. Por isso tinha sempre uma dolorosa sensação de desejo que nunca podia ser satisfeita, uma nostálgica aspiração a qualquer coisa que me parecia inacessível, a que eu chamava "instinto criador".
(...) De repente, tudo mudou (...). Verifiquei com alegria que o mundo que Deus criou continua belo (...) Como sempre, esta paisagem silenciosa, tão misteriosa à hora do crepúsculo, deu-me sentimentos tão fortes como dantes, mas vi-a, digamos assim, "objectivamente". Já não a queria "possuir", já não me sentia incitada ao onanismo».


«Devia bastar que houvesse um só homem digno desse nome, para se acreditar na humanidade ( ... ) Mesmo que houvesse um só alemão decente, por causa dele perdias o direito a odiar um povo inteiro ( ... ) O ódio indiferenciado é a pior coisa que existe. É uma doença da alma».


«Não é Deus que nos deve explicações. Nós é que lhas devemos a Ele. Sei o que ainda nos pode esperar (...) Deus não nos deve explicações pelas coisas sem sentido que fazemos. Somos nós quem tem que dar explicações. Já morri mil mortes em mil campos de concentração, sei de tudo, nada novo me pode angustiar. De uma forma ou de outra, sei de tudo. Mas porém acho que esta vida é bela e plena de sentido. A cada instante».


«Ontem à noite, pouco antes de me ir deitar, dei por mim, de repente, ajoelhada na alcatifa, no meio desta grande sala, entre as cadeiras de metal. Assim. Sem mais nem menos. Puxada para o chão por algo mais forte do que eu. Faz tempo, tinha dito de mim para mim: "Vou ver se consigo ajoelhar-me". Tinha ainda muita vergonha desse gesto tão íntimo como os gestos do amor, todos gestos de que ninguém consegue falar. A não ser um poeta (...) A força criadora é, afinal de contas, uma parte de Deus. As pessoas precisam é de ter a coragem de o dizer (...)».

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