19 de novembro de 2009

A portuguesa que aterrou em Daca e quis mudar a vida nos bairros de lata

Por Ana Rute Silva (hoje no Público)





Maria do Céu da Conceição, assistente de bordo da Emirates Airlines, foi ontem eleita Mulher do Ano dos Emirados Árabes Unidos, pelo trabalho humanitário desenvolvido no Bangladesh


Faltava pouco mais de meia hora para ser anunciado o prémio de Mulher do Ano dos Emirados Árabes Unidos e Maria do Céu da Conceição não conseguia disfarçar o nervosismo. Ao telefone com o P2, a assistente de bordo portuguesa, uma das quatro nomeadas na categoria de Acção Humanitária, preparava-se para aproveitar a noite e, pelo menos, angariar mais fundos para os seus projectos sociais.
"Vou ser como um tubarão", dizia, num português quebrado pela distância. Aos 31 anos, esta funcionária da Emirates Airlines direcciona toda a energia para uma única causa: a das crianças de rua. Tencionava aproveitar cada segundo da cerimónia, com direito a tapete vermelho, para cativar patrocinadores e voluntários - e era isto que lhe suscitava a imagem de um tubarão que não larga as presas. "Há 400 pessoas neste evento e eu vou tentar criar uma base de contactos. Ganhar é importante, mas já fico contente por lá estar." Horas depois, a notícia chegava a Lisboa por SMS. "A Maria ganhou."
Desde que em 2005 aterrou em Daca, capital do Bangladesh (com 13,5 milhões de habitantes), nunca mais voltou a ser uma simples assistente de bordo. O confronto com a dura realidade local, pobreza extrema e crianças na rua teve efeitos imediatos. Decidiu criar uma organização não governamental para educar, alimentar e tratar mais de 600 meninos e meninas carenciados e respectivas famílias. Queria quebrar "o ciclo da pobreza" e, a partir desse dia, passou todas as férias e folgas em Daca a trabalhar no projecto.
(...)

Os atrasos na obtenção de vistos e a falta de cooperação do Governo local desgastaram Maria da Conceição, que só sobreviveu por "amor e paixão" à causa. "Pergunto-me como é que aguentei quatro anos e meio neste projecto. Pergunto-me se serei louca ou persistente. As dificuldades são tão grandes. Há um ano que temos mil quilos de roupa bloqueados na alfândega. Para ter um visto, tenho de ir a Paris. E é difícil ajudar as pessoas que vivem nestes bairros. Nunca foram à escola." À falta de ambição que encontrou nas ruas a hospedeira respondeu com mais teimosia. Está "sempre em cima". Nunca desiste.


Aproveitem para espreitar a reportagem feita no dia 30-05-2007 pela RTP: aqui.

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