15 de novembro de 2009

"Quem defende o casamento dos homossexuais não é católico"

Se continuarmos por este caminho, vão-me mesmo excluir da linhagem dos católicos. Estou quase a sentir-me "despedida".
Estamos a falar de um contrato civil, senhores! Jesus veio substituir os milhares de preceitos judeus pela lei do Amor, e vossas eminências estão a querer voltar para trás. A meter-se nos lençóis das pessoas e até nos seus contratos civis. Quando há tanta coisa tão mais importante a denunciar, a converter!

Que mania de substituir o essencial pelo acessório, irra!

22 comentários:

  1. Cara Joana,

    o post suscita-me a pergunta: quem é Católico?
    A resposta mais simples parece-me ser: quem se identifica com a Doutrina da Igreja Católica. Mesmo se esta resposta não esgota o que se poderia dizer.

    Penso que não podemos dizer "sou comunista" sem nos identificarmos com o Comunismo. O propósito desta frase é mais a favor do que é realmente o "casamento" e evitar tomar uma convivência homossexual por uma coisa que não é. O Catecismo da Igreja Católica é claro quanto ao respeito pelo homossexual e contra a discriminação.

    A idealogia que se quer passar é que ser contra um "casamento" de pessoas do mesmo sexo é discriminar. Para mim é uma leitura profundamente errada do que é discriminar. Não se pode tratar de forma igual o que é diferente. Enquanto o casamento tem por base a unidade na diversidade, a convivência homossexual ocorre na "mesmidade". É nessa linha que se está a pretender redifinir com esta lei o que é casamento, com a nefasta consequência da família deixar de ser a célula base da sociedade. Tal não seria Católico, pelo que percebo (apesar de forte) a afirmação feita.

    Mesmo se há outras coisas importantes a tratar, defender a família será certamente uma delas. A frase vai também nesse sentido.

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  2. Obrigada pela sua opinião, Miguel.
    Mas realmente não concordo. Em primeiro lugar, não concordo com o facto de o casamento dos homossexuais ser nefasto para a família como célula base da sociedade (nenhum heterossexual vai deixar de casar com uma pessoa doutro sexo só pelo facto de ter ao seu lado casais homossexuais; o casamento homossexual não é contagioso!).
    Neste momento, quem é homossexual não pode constituir família. Passaria a poder fazê-lo. E acredito que a família, mais do que fundada na diversidade, deve ser fundada no amor. É a união de duas pessoas que, pelo facto de se amarem e se quererem comprometer uma com a outra na fidelidade, passarão a ter entre si laços de parentesco. E isso, actualmente, é negado aos homossexuais. Por isso, considero que está, sim, em causa uma forma de discriminação.
    Por outro lado, também não concordo que ser católico seja identificar-se, simplesmente, com a Doutrina. A Doutrina é demasiado vasta e complexa, para que uma pessoa que pensa pela sua própria cabeça se consiga identificar a 100% com tudo o que ela contém. Se ser católico fosse isto, então todos os jovens que têm relações sexuais antes do casamento não seriam católicos, por exemplo. Tal como todos os casais que usam métodos contraceptivos ou os divorciados que voltam a casar.
    Penso que ser católico é identificar-se com o essencial (que é a Palavra). E acreditar que a Igreja é uma comunidade de fé, em caminho, à qual não queremos renunciar, embora nem sempre nos identifiquemos com o que a hierarquia diz e faz.
    E continuarei a ser católica enquanto me permitirem discordar livre e publicamente daquilo com que não me identificar. Se perder essa liberdade, então é que deixarei de me sentir católica.

    Um abraço.

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  3. Cara Joana,

    sem dúvida que a fundação da família está no amor, mas que amor? Pode o amor que funda uma família ser vivido por duas pessoas do mesmo sexo?

    Qual a origem da família senão na união "numa só carne" de dois esposos de sexo diferente? Diz-nos João Paulo II, na teologia do corpo, que a união conjugal é "o núcleo ontológico da família". Uma união homossexual não é uma união conjugal porque não possui as suas características ao nível mais básico, o natural, pelo que não é possível considerá-la "família", nem que o "casamento" nesses casos seja legalizado.

    Não creio que os laços de parentesco passam a existir apenas pelo facto de duas pessoas do mesmo sexo dizerem que se amam e se quererem comprometer na fidelidade. Isto é, podem fazê-lo, mas isso não lhe confere grau de parentesco, uma vez que não podem viver a união conjugal em plenitude.

    O casamento não é negado aos homossexuais, assim como o aborto não é negado ao bebé. Simplesmente o casamento não está para os homossexuais, como o aborto não está para um bebé. Por outro lado, discrimina-se quando se viola o princípio da igualdade. Ora, este afirma simplesmente que é igual o que é igual e diferente o que é diferente. Uma convivência homossexual é diferente de um casamento heterosexual, pelo que não podem ser tratados da mesma maneira.

    Contudo, porque há-de ser essa diferença um desvalor? Por analogia a alguns movimentos feministas em que uma mulher só será mulher quando for homem, parece-me que uma união homossexual só será uma união homossexual quando for heterosexual. Há que explorar a diferença e não ceder a ideologias.

    A Doutrina é vasta e complexa, mas é mais que um conjunto de conhecimentos, ou normas, etc ... é uma experiência de vida e daí se tira o testemunho Católico que é muito mal compreendido e que raramente se explora o seu valor civilizacional. Quando conheci mais a Doutrina encontrei um tesouro imenso que dá um sentido enorme à nossa vida.

    Quanto a ser Palavra é uma grande verdade. Ser Cristão, ser de Cristo é sermos uma Palavra pronunciada por Deus para o mundo. Disso faz parte o amor à hierarquia que sei - de fonte segura - que não se fecha sobre si própria, mas está atenta à comunidade de fé, feita de homens e mulheres com muita experiência sobre estes assuntos. A minha experiência tem sido sempre que grandes coisas podem nascer daqueles que personificam a Igreja como Mestra e Mãe. Oxalá descubramos no terreno esse valor ...

    Por fim, recomendo uma entrevista feita ao Juiz Pedro Vaz Patto, que imagino que conheça: http://oinimputavel.blogspot.com/search?q=pedro+vaz+patto

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  4. Caro Miguel,
    acho que discordo de TUDO o que diz. De todos os seus argumentos.
    Desde a suposição inicial de que o amor que funda uma família não pode ser vivido por duas pessoas do mesmo sexo à consideração de que o amor à hierarquia faz parte do nosso sermos "uma Palavra pronunciada por Deus para o mundo", passando pela analogia verdadeiramente impressionante entre a homossexualidade e o aborto ("O casamento não é negado aos homossexuais, assim como o aborto não é negado ao bebé". Desculpe? Não nego aos homossexuais uma coisa que eles pedem e que não faz mal a ninguém, tal como não nego ao bébé o seu assassínio?!?......).
    Acho que não temos em comum nenhum ponto de partida para a discussão(à parte, é claro, o facto de ambos estarmos à procura da Verdade - mas, pelos visto, isso não é suficiente para um diálogo).

    Por isso, nem sei se vale a pena argumentar....

    Lamento.

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  5. Cara Joana,

    quando pessoas que pretendem casar em regime de poligamia "pedirem" que esse casamento seja legalizado, pensa o mesmo?

    Já agora, quando adolescentes pretenderem casar porque se amam e querem comprometer-se na fidelidade "pedirem" para legalizar esse casamento, pensa da mesma forma?

    Quando a instituição família "pede" para não legalizar como "casamento" algo que relativa o seu papel estruturante na sociedade, porque não apoiar esse "pedido"?

    Ainda não percebi a fundamentação dos seus argumentos. Aceita o casamento homossexual por uma questão de sentimento de compaixão? Como filósofa, estou certo que a sua opinião tem um fundamento antropológico. Se possível gostava de o conhecer.

    Por fim, se um Católico aceita o casamento homossexual deveria fundamentar a sua opinião no campo da Sabedoria da Cruz e não na Sabedoria do mundo. Mas concordo consigo, ambos procuramos a Verdade :) e é por isso que vale a pena argumentar!

    Coragem!

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  6. Caro Miguel,

    dê-me dois dias, que amanhã devo acompanhar o Dr. Sujit e no dia seguinte devo preparar a minha intervenção na conferência do Cardeal Saraiva Martins sobre a nova Encíclica(em breve colocarei no blog um post sobre esse evento).

    Mas fico contente com o seu estímulo para que eu apresente os meus argumentos.

    Até breve.

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  7. Obrigado Joana,

    e faço votos que a sua intervenção seja brilhante! É uma Encíclica que me é muito cara e talvez a que mais me tocou nos últimos tempos, apesar das primeiras duas serem muito boas.

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  8. Caro Miguel,

    aqui estou para responder às suas últimas interpelações. Fá-lo-ei em duas partes, devido ao limite de caracteres dos comentários.

    Em primeiro lugar, a "derrapagem" (falácia lógica também conhecida por declive ardiloso ou escorregadio) com que pretende justificar o Não, não me parece adequada. Não é porque legalizamos o casamento dos homossexuais (dois adultos, maduros e responsáveis - em nada comparáveis a adolescentes que ainda não podem responder por si, sem prometer o que não têm maturidade para compreender), que teríamos de legalizar a poligamia. Não há relação.
    Não é porque na Holanda é legal o consumo de drogas leves que os holandeses passaram a pedir a legalização das drogas duras.
    A seu tempo, serão analisados os diferentes problemas/questões desafios da sociedade. À medida que surgirem. E a resposta que damos a cada um não deve ter a medida nas nossas previsões catastrofistas. Senão nunca nos permitiríamos evoluir - pelo medo dos exageros que poderão advir do progresso.

    Por outro lado, você diz: «Quando a instituição família "pede" para não legalizar como "casamento" algo que relativa o seu papel estruturante na sociedade, porque não apoiar esse "pedido"?». Eu não considero que seja a instituição família que está a pedir, como autodefesa, alguma coisa. Antes de mais, porque quem “pede” é um grupo de pessoas que pensa de determinada maneira , não é a instituição família. Como já escrevi aqui, eu e o meu marido somos uma família e, tal como muitas outras, não temos nenhuma objecção ao casamento dos homossexuais. Há famílias que pensam de uma maneira e outras de outra (por isso mesmo, eu nem me oporia a um referendo, pois considero que as pessoas devem poder expressar a sua opinião).
    Para além disto, repito que não me parece que o casamento dos homossexuais prejudique a família e o seu papel estruturante. De todo. E se, como diz Pedro Madeira, citando Stuart Mill, o princípio do dano "é o princípio de que o único fim para o qual as pessoas têm justificação, individual ou colectivamente, em interferir na liberdade de acção de outro, é a autoprotecção.(...)", a questão é se eu tenho justificação para interferir na liberdade de os homossexuais casarem. Como adiro ao princípio do dano, sigo este raciocínio. E considero que não.

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  9. Quais os meus argumentos?
    Você tem razão (embora eu não me considere filósofa) ao supor que a minha posição não é só baseada na compaixão, mas tem também um fundamento antropológico. Assim é.
    Eu considero que o Homem é um ser livre (pois, para lá da sua dimensão material, tem um espírito que lhe confere esse livre-arbítrio). Considero que é um ser moral, e considero que há valores relativos e valores absolutos. Entre estes, está o valor do amor e o valor da vida (razão pela qual sou radicalmente contra o aborto, em toda e qualquer circunstância); mas não está o valor da heterossexualidade e da procriação.
    Considero que nós temos uma dimensão genética fortíssima. E penso que a homossexualidade tem uma base genética incontornável.
    Quem nasce homossexual é capaz de amar (no sentido de Eros) só uma pessoa do mesmo sexo. E tem toda a liberdade e legitimidade para o fazer. TODA! Porque o amor é superior aos moralismos de base cultural e religiosa.
    Eu não aprovo a prevaricação, não aprovo a libertinagem. E em relação a quem escolhe caminhos desse género, homossexual ou heterossexual, distancio-me e, aí sim, passa a haver espaço para a fundamental compaixão, mas não para a aprovação.
    Já em relação à vida a dois de um casal homossexual, entro na esfera dos direitos fundamentais da pessoa humana. O direito a ser feliz. A realizar-se plenamente.
    Com tanta gente que hoje recusa o casamento porque não quer compromissos, porque tem medo do sacrifício, porque não adere ao ideal da fidelidade..... porque é que havemos de criticar um casal que quer construir tudo isto (e isto é a base na família, na minha opinião)?
    Só porque são do mesmo sexo? Parece um mero preconceito, sinceramente.
    Para mim, isso não faz qualquer sentido. Para mim, eles são aliados, quando desejam casar-se. São pessoas que, muitas vezes, se regem pelos meus valores.
    E por isso não tenho, nem ninguém tem, o direito de lhes impedir a opção de vida que eles querem fazer (o casamento) e que nós até consideramos ser lamentável estar a "cair em desuso"....

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  10. Excelente argumentação Joana
    Concordo com tudo o que diz!

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  11. Cara Joana,

    obrigado pelo tempo dispensado a fundamentar a sua aceitação do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

    A "derrapagem" com que caracteriza os meus argumentos pelo não, como uma visão catastrofista do que poderá advir da legalização do casamento homossexual pode fundamentar-se num princípio de precaução, tal como se usa relativamente à crise ecológica, pelo seria mais "precaução" do que "derrapagem", mas enfim, concordo que coloquemos de lado argumentos catastrofistas.

    a questão é se eu tenho justificação para interferir na liberdade de os homossexuais casarem. Como adiro ao princípio do dano, sigo este raciocínio. E considero que não.

    A sua opinião é que o acesso ao casamento e tudo aquilo que esse significa é uma questão de liberdade independente da orientação sexual. Eu penso que uma coisa é a "convivência homossexual", estabelecida na sociedade com base na liberdade de orientação sexual de cada pessoa e que deve ser sempre respeitada, porque está ligada à dignidade da pessoa. Mas outra é o "casamento homossexual" como "ferramenta" de reconhecimento social de uma equiparação da união de pessoas do mesmo sexo, à união de pessoas de sexo diferente. O meu argumento é que se comete um erro ao equipará-las.

    Repare, quem está contra o "casamento homossexual", não quer dizer que esteja contra a "convivência homossexual", porque do ponto de vista social, "casamento" implica "convivência", mas "convivência" é diferente (ou não implica) de "casamento", tal como o reconhecimento jurídico das 'uniões de facto' o demonstra. Por isso é que a questão só faz sentido ser debatida no campo antropológico, de modo a fundamentar o jurídico. Aqui entram os seus argumentos que um "anónimo" achou excelentes, embora me pareça que não fundamentam a sua opinião. Passo a explicar-me.

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  12. Retenho algumas ideias que me pareceram chave na sua argumentação:

    ARGUMENTO ANTROPOLÓGICO
    - o Homem é um ser livre
    - é um ser moral
    - há valores relativos e valores absolutos

    Ninguém deve interferir sobre as escolhas pessoais de cada um porque seria violar a dignidade da pessoa. Acima da sua orientação sexual, um homossexual é uma pessoa, um ser-relação que se reconhece a si mesmo no relacionamento com os outros. O não reconhecimento jurídico do "casamento homossexual" não interfere com essa escolha porque a "convivência homossexual" não é impedida ou desvalorizada por não ter reconhecimento jurídico.

    ARGUMENTO BIOLÓGICO
    - temos uma dimensão genética fortíssima. E penso que a homossexualidade tem uma base genética incontornável
    - Quem nasce homossexual é capaz de amar (no sentido de Eros) só uma pessoa do mesmo sexo

    Segundo os especialistas, não há qualquer evidência de momento que sustente que a homossexualidade seja genética. Cito: at the present time, there is no evidence of a direct causative link between a single gene and complex psycho-social behavior such as sexual preference (Collins, 2006). This is not my mere idiosyncratic opinion but read any book on behavior genetics or molecular biology and the authors will unanimously agree that, at present, there is no gay gene. (http://www.narth.com/docs/080307Abbott_NARTH_article.pdf).

    Contudo parece-me óbvio que se alguém "nascesse" homossexual seria capaz de amar. Algo que se pode justificar por via da antropologia Cristã que vê o ser humano constituído como ser-amor, uma vez imago Dei, i.e. imagem de um Deus-Amor.

    Por outro lado, "eros" é o nome que na Grécia antiga se dava ao amor entre homem e mulher e que se impunha ao ser humano (Deus caritas est, 3), logo, não me parece que a capacidade de amar do homossexual seja no sentido do eros, se nos reportarmos ao seu sentido original, mas terá certamente um sentido enquanto ser-amor. Não é um reconhecimento jurídico como "casamento" que esclarece esse sentido.

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  13. ARGUMENTO SOCIAL
    - em relação à vida a dois de um casal homossexual, entro na esfera dos direitos fundamentais da pessoa humana. O direito a ser feliz. A realizar-se plenamente.
    - casamento (...) compromissos(...)adere ao ideal de fidelidade(...)isto é a base na família, na minha opinião
    - nem ninguém tem, o direito de lhes impedir a opção de vida que eles querem fazer (o casamento)

    "Casal homossexual" parece-me uma expressão inapropriada, pois "casal" não significa duas pessoas, mas duas pessoas de sexo diferente. Exemplo, quando temos dois filhos de sexo diferente dizemos que temos um "casal", o que não acontece com dois filhos do mesmo sexo. Duas pessoas (do mesmo sexo) que trabalham juntas há muitos anos (e.g. músicos), e cujo compromisso e fidelidade a um amor philia, dizemos que fazem um "duo" fantástico, não um casal. Por isso, a expressão mais correcta seria, proponho, "parceiros homossexuais". E concordo, de facto, que violar a privacidade de "parceiros homossexuais" com argumentos moralistas seria violar a sua dignidade como pessoas, em contradição com o próprio objectivo moral. Mas não entrevejo como o respeito pela "convivência homossexual" seja fundamento para pronunciá-la "casamento".

    Os compromissos e a fidelidade são, de facto, essenciais na constituição de família, e podem ser vividos por pessoas que juridicamente se encontram em união de facto, logo, isso apenas é insuficiente para fundamentar o "casamento homossexual". Porquê? Segundo o sexólogo Raimondo Scotto «tendo presente o valor social do casamento, pelo menos com o fim de reconhecer e educar os filhos, compreende-se que pô-lo ao mesmo nível da convivência homossexual cria confusões sobre o seu valor real, com repercussões graves a nível social». (Horizontes de Liberdade, Cidade Nova, 2007)

    Que repercussões? Por exemplo, «os jovens, ainda em fase de crescimento, poderão ser facilmente levados a concluir que, pensando no amadurecimento da sua sexualidade, qualquer tipo de escolha neste campo tenha o mesmo significado» (Scotto, 2007). Pelo que a maior repercussão é a acentuação do relativismo no seio daquilo que constitui uma família.

    Cara Joana, parece-me que os seus argumentos sustentam mais que uma "convivência homossexual" não deve ser discriminada, do que a solução que se pretende do "casamento homossexual". Se o problema são direitos pontuais (herança, visita de hospital, etc) negados aos "parceiros homossexuais", então o Estado deve assegurar que esses não sejam negados a esse tipo de convivência, mas não são direitos pontuais que fazem da "convivência homossexual" uma coisa que não é.

    Oiço muitos argumentarem que legalizar o "casamento homossexual" é fazer de Portugal pioneiro civilizacional, mas a minha opinião é que se Portugal assegurasse os direitos exigidos sem relativizar o valor social/real do casamento entre homem e mulher, então sim, seria pioneiro!

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  14. Que chatice, Miguel!
    Quando eu me sento, respiro fundo, e penso.... pronto, já está, agora posso descansar...
    ...lá vem você com mais uma série de argumentos para serem esmiuçados, e que não podem ficar sem resposta.
    Bolas! (estou a brincar)
    Bom, dê-me mais uns dias, que esta noite nem consegui ler bem o que escreveu (se soubesse onde estive esta noite - num encontro-semi-público bem a propósito, tendo em conta o nosso tema - você até teria engolido em seco, presumo, por mais que diga que a convivência entre homossexuais e o seu casamento lhe inspiram níveis de aprovação diferentes).

    Cá voltarei.

    E boa noite.

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  15. Ainda bem que para si "chatice" = "desafio", pois ando às voltas a delinear um projecto europeu complexo, mas achei que valia a pena dar a vida (e tempo) para debater com a Joana sobre este assunto :)

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  16. Caro Miguel,
    Não me esqueci de si nem da nossa conversa.
    Mas, numa altura de muito trabalho, isto não era prioritário e fui deixando passar o tempo.
    Mas aqui estou, como prometido.

    O Miguel diz: «Eu penso que uma coisa é a "convivência homossexual (…) outra é o "casamento homossexual" como "ferramenta" de reconhecimento social de uma equiparação da união de pessoas do mesmo sexo, à união de pessoas de sexo diferente. (…)do ponto de vista social, "casamento" implica "convivência", mas "convivência" é diferente (ou não implica) de "casamento" »

    Com certeza, Miguel. Para mim também é claro que o casamento implica convivência mas não vice-versa, e que a aceitação da convivência não implica a aceitação do casamento. Para mim é claro que estamos a discutir a aceitação do casamento. A aceitação da convivência para mim estava já pressuposta no seu discurso. Senão não faria qualquer sentido esta nossa troca de argumentos.

    Falemos então de casamento.

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  17. «Acima da sua orientação sexual, um homossexual é uma pessoa, um ser-relação que se reconhece a si mesmo no relacionamento com os outros. O não reconhecimento jurídico do "casamento homossexual" não interfere com essa escolha porque a "convivência homossexual" não é impedida ou desvalorizada por não ter reconhecimento jurídico.»

    Não concordo com o que diz. O reconhecimento jurídico do casamento é a confirmação de um reconhecimento social, tal como o não reconhecimento jurídico é exactamente o oposto. A convivência homossexual, ao não poder ser reconhecida contratualmente perante a sociedade, está a ser qualificada como inferior (e não meramente diferente), o que é, sim, uma descriminação e uma negação de liberdade. Eu posso conviver, mas essa convivência não é reconhecida pelo estado, nem o meu parceiro se pode tornar meu familiar. É como poder namorar mas não poder casar.
    Como quando, dantes (e ainda hoje, em muito lugares do mundo), os pais decidiam em lugar dos filhos qual a pessoa com quem estes iriam constituir família. Muitas vezes permitiam-lhes os naturais devaneios da juventude, deixavam-nos namorar, mas era claro que nenhuma dessas relações poderia ter futuro, pois o futuro tinha limites pré-definidos, que não deixavam lugar à liberdade de escolha.
    Actualmente, o “pai” é o Estado, no caso das pessoas homossexuais.

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  18. Sigamos para outro argumento.
    As suas citações de “especialistas” que contradizem a base genética da homossexualidade são, como qualquer artigo científico que discorra sobre uma temática ainda não acertada consensualmente pela ciência, uma mera constatação de facto relativamente à informação científica disponível no momento. Ao afirmar “at present, there is no gay gene”, estamos simplesmente a dizer algo como, “ainda não encontrámos nenhum planeta com vida”. O Miguel, como cientista que é, não pode certamente querer retirar ilações daqui, pois não? Seria novamente uma falácia (peço desculpa, as falácias são a minha especialidade, não estou a querer ser pretensiosa, estou só a ceder a uma deformação profissional), neste caso de “apelo à ignorância”: como ainda não se provou que X é verdadeiro, então X é falso.

    Mas creio que aquilo que o Miguel queria apontar era simplesmente que a minha tese (da base genética da homossexualidade) é que não é ainda sustentada por provas científicas. Tem razão, não é. Mas eu nunca disse que era. Disse simplesmente que esta é a convicção de que parto. E o Miguel tinha-me perguntado quais as minhas bases teóricas (pessoais e não científicas, presumo, dado eu não ser uma académica) para afirmar o que afirmo.

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  19. Quanto ao que me diz de Eros (que «é o nome que na Grécia antiga se dava ao amor entre homem e mulher e que se impunha ao ser humano»), não tenho qualquer conhecimento de que assim seja.

    Eros, Deus do Amor (no sentido romântico e passional, sentido diferente de Agape ou Philia –era isto que eu queria precisar no meu comentário anterior), é uma das primeiras divindades que surgem no movimento de criação do mundo (segundo as antigas teogonias), e é a força vital que une. Une os elementos e une as pessoas, garantindo a reprodução, é verdade, mas também, e sobretudo, a coesão do cosmos.

    Dado o homoerotismo típico da Grécia, duvido que essa pulsão unificadora fosse considerada como exclusiva das uniões heterossexuais…

    Basta conhecer e conviver de perto com pessoas homossexuais (o que, na maior parte das vezes, não sucede a quem luta contra o casamento gay – mas não sei se é o seu caso) para reconhecer que o que eles e elas sentem uns pelos outros é exactamente o mesmo que os heterossexuais sentem quando se apaixonam e amam alguém. É pura ignorância (desculpe-me a dureza) afirmar o contrário.

    E quando me diz que «Não é um reconhecimento jurídico como "casamento" que esclarece esse sentido» (ou seja, o sentido do amor e da capacidade de amar pessoas do mesmo sexo), mais uma vez discordo.
    O reconhecimento jurídico não “esclarece” nada, nem se pretende que o faça, nem a respeito das uniões heterossexuais nem das homossexuais. O reconhecimento jurídico “reconhece”, valida, o que já existe (união prolongada, convivência) e dá o passo seguinte, que é o reconhecimento social de uma nova família. Isto não tem, de facto, a ver com os fundamentos biológicos do amor, mas nem no caso de pessoas do mesmo sexo, nem no outro.

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  20. Próxima questão. O Miguel diz: «"Casal homossexual" parece-me uma expressão inapropriada, pois "casal" não significa duas pessoas, mas duas pessoas de sexo diferente. Exemplo, quando temos dois filhos de sexo diferente dizemos que temos um "casal"».

    Com toda a sinceridade, este tipo de argumentos irrita-me. Baseiam-se em terminologias relativas, efémeras, às quais se pretende dar uma intemporalidade absurda (como aquilo que o Miguel pretendeu fazer ao esclarecer que o Eros grego diz respeito a pessoas de sexo diferente – argumento a que respondi, pois discordo do que disse, mas que não me pereceu minimamente relevante para a conclusão a que se pretende chegar). As terminologias tem um valor, a meu ver, reduzidíssimo, algo que os escolásticos têm a mania de não querer ver. Usa-se o termo casal no sentido de duas pessoas de sexo diferente. Ok. E depois? Até agora assim foi por uma razão evidente: não havia casais de sexo diferente! Não podia haver! A sociedade não o toleraria. Portanto, chamamos “casal” ao modelo de união amorosa que conhecemos e, como sempre sucede, a linguagem adapta-se à realidade e estabelece-se, instala-se como se tivesse o poder a criar essa mesma realidade. Mas isso é pretender dar um cunho de eternidade, para além de uma espécie de poder criacionista, a um instrumento humano, a linguagem, que, por mais condicionadora do pensamento que possa ser (e é-o, bem sei), existe para nomear o que já existe, e assim o potenciar e comunicar.

    Portanto, se me permite, continuarei a chamar casais e não parceiros, a quem se considera tal.

    Os heterossexuais também têm “parceiros”. Quer no trabalho (o dito sentido de philia), quer parceiros sexuais (que são aqueles com quem temos relações sexuais, mas não toda a outra envolvência duradoura que se supõe num casal).

    Dizer a alguém: “olha, desculpa, o que tu sentes não é eros, é philia. E o que tu e o teu namorado são, é parceiros não um casal”, é no mínimo ridículo, para além de ser, mais uma vez, o invadir da vida privada e afectiva do outro com ditames que não temos o mínimo direito a pronunciar.

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  21. Continuemos. O Miguel cita Raimondo Scotto, que afirma «os jovens, ainda em fase de crescimento, poderão ser facilmente levados a concluir que, pensando no amadurecimento da sua sexualidade, qualquer tipo de escolha neste campo tenha o mesmo significado» (Scotto, 2007).

    E a mim, lamento desiludi-lo, isto não me faz qualquer comichão. Por um lado, porque acho que a homossexualidade não é uma escolha, como já lhe disse. Sei que se costuma falar em “opção sexual”, mas provavelmente não é a expressão mais correcta (e agora sou eu, bem sei, a embirrar com a terminologia!), pois eu não tenho a opção de ser homossexual, assim como quem é homossexual não tem a opção contrária. E a quantidade de famílias destruídas por casos de homossexualidade revelada tardiamente depois de anos de auto-repressão mostra-nos isso mesmo.

    Por outro lado, considero que ambas as opções sexuais (mantenhamos o termo, enquanto não encontrarmos outro) têm, de facto, “o mesmo significado”. Não me parece que isto seja abrir portas ao relativismo, mas sim reconhecer a realidade humana tal como ela é, sem a forçar a adequar-se à imagem que dela fizemos.

    Por último, aquilo que o casamento homossexual concede, não são os ditos «direitos pontuais (herança, visita de hospital, etc)», os quais, concordo consigo, podem facilmente ser garantidos pela lei a quem vive em união de facto (que é o mínimo que se poderia reconhecer à convivência homossexual).

    O casamento concede a direito a constituir uma família a duas pessoas que se amam e querem ser a família uma da outra. Porque é que eu casei, Miguel? Por isto mesmo. Saí de casa dos meus pais e construí a minha própria família.
    Quem é homossexual também o deseja fazer e tem esse direito. Não é uma mera opção de convivência (que eu também teria podido fazer). É mais do que isso, é um compromisso para a vida, que se reveste de um contrato recíproco, e com valor perante a sociedade.

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  22. Concordo inteiramente consigo!

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