«Olá professora J.
Não falo consigo há muito, muito tempo. Mas, passados dois anos e meio de eu ter saído do colégio, quase a acabar o meu curso, de Erasmus em Paris, lembrei-me de si.
Vi uma entrevista a um filósofo, Robert Happé, que me chocou e emocionou com a simplicidade com que ele fala sobre a Vida.
Está dividido em 4 partes, se tiver tempo aconselho muito a ver
http://www.youtube.com/watch?v=tJypbzHlzWU
A professora conheceu-me numa altura em que ainda não tinha opiniões formadas nem objectivos definidos, e dou graças por isso.
Foi a primeira pessoa que nos consciencializou e nos abriu novos horizontes para além da sociedade desgastada onde vivíamos (e vivemos), para além dos interesses e dos pensamentos imaturos da idade.
Agora, com quase 21 anos, estou a meio de uma caminhada, de um crescimento onde, finalmente, penso estar a encontrar-me.
Esta entrevista descreve muitas das ideias que me têm acompanhado nas minhas reflexões e sentir-me-rei realizado se algum dia conseguir olhar para a vida como este homem olha.
Estou a enviar-lhe este e-mail porque esta caminhada começou no 11º ano com a professora, apesar de na altura eu não me ter apercebido.»
Nestes dias de transição entre a minha missão como professora e a minha missão como mãe, partilho aqui um vídeo que me foi enviado por um ex-aluno, juntamente com as palavras que reporto acima, e que me deixou muito feliz.
A "colheita" dos meus primeiros alunos está este ano, na sua grande maioria, em Erasmus (estão no 3º ano da faculdade). E tem sido uma benção enorme receber sucessivos emails de alguns deles, que partilham comigo as suas impressões e, sobretudo, a redescoberta que estão a fazer de muitas das coisas que lhes ensinei ou que discuti com eles, há quatro ou cinco anos, e que ficaram guardadas nos seus corações à espera do tempo certo para germinar. E esse tempo chegou agora, já com 21 anos, à descoberta do mundo em cidades novas, em contacto com muitas pessoas e experiências diferentes que os desinstalam e os fazem pensar. Os mails têm vindo às vezes de alunos com quem eu nunca mais tinha falado, ou com quem eu não tinha ficado com uma relação especialmente próxima. Ainda tem sido mais bonito por isso mesmo, pela surpresa e o privilégio de ver os frutos de um trabalho que, pela sua natureza, é de confiança no mistério: será que irá germinar, isto que estou a fazer com os miúdos? Em quem dará fruto? E que fruto?
É uma benção enorme poder vislumbrar esse futuro que agora se tornou presente, à medida que eles se tornam homens e mulheres e têm a generosidade de olhar para trás e me saudar, de longe.